segunda-feira, 2 de abril de 2018

Sem juízo


Descalça as flores de maio
e tira as roupas que trazem
as poeiras do tempo

pede silêncio ao lábio
que superior eu não entendo

desliga o som dos pássaros
não é deles que preciso

compõe as asas de abril
apossa-te das ternuras mil
e alisa-me as rugas que idealizo

na terra roubada à planície
pisa a manha, pisa a sanha
que os animais selvagens mudos
se arreganhem!

Perante um minuto
no íntimo de tudo
quando os nossos corpos se entranhem

naquela delícia imprecisa nos olhos
naquela tremura mundana
regada de gemidos que emana

da boca do gargalo do poço fundo
e o mais que se atreva a barganha
gerada num sopro de paraíso

depois gaba-te da façanha
ao sol, às flores, ao riso
ao veludo dos sonhos em que deslizo

mas não deixes nunca de ser
o meu mel, o meu cinzel
sem juízo!

Rosa Alentejana Felisbela
02/04/2018
(escultura da chinesa Luo Li Rong)

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