quinta-feira, 12 de abril de 2018

Carta de amor ou um simples recado


Meu amor,
Tens em mim o efeito que tem a casa. Por vezes emudeces por dentro, com as sombras rasando as ideias, ainda assim, com a chaminé aberta ao ar puro.

Se o meu vento benfazejo as afasta, logo os teus olhos-janelas se enfeitam de túlipas e cravos e rosmaninhos. Só se cobrem de negrume agreste nas cortinas-pálpebras, quando as deixas entrar, como ladrões furtivos descendo a escadaria do sótão dos teus pensamentos.

Mas, mesmo assim, não chegam para preencher todos os espaços das tuas paredes fechadas. Elas guardam os preciosos quadros com cheiros dos nossos momentos. Emoções com um valor sentimental inegável, impagável. Não somos pessoas de guardar futilidades, mas sim felicidades. Essas, que ninguém nunca viveu por nós.

Ah meu amor, a sedução da sabedoria que emana da cozinha das tuas mãos tem o dom de me emudecer. Nesse complexo mundo de temperos, é que descortino o sabor aprimorado da paixão. A saliva sobe na sua espiral de veias rumo ao quarto.

E aí, descubro o reboco branco e a tinta terna da tua voz. Ao fundo, um espelho reflete as nossas silhuetas sobre o veludo vermelho que tem a cama, e um véu transparente no dossel a cobrir a nossa sorte. Sim, a nossa perdição foi a nossa sorte.

No entanto, tu gostas de a esconder atrás das varandas do teu sorriso. Esse, que me deixa maravilhada e altiva nos degraus da porta que me abres, sempre que te quero visitar por dentro.

Fascinas-me com esse chão imaculadamente limpo do teu coração, onde nem sequer se escuta o som dos meus passos, porque não tens lugar para o pó exterior passear. Existe apenas o caminho aberto para as ternuras que te levo de presente.

E hoje, fica aqui o meu presente (o que quero viver contigo) nesta simples carta ou recado…de amor.

Rosa Alentejana Felisbela
12/04/2018
(imagem da net)

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