domingo, 22 de abril de 2018

Paz


Vibram as estradas ruidosas
sob as rodas pesarosas
(assustando as pombas brancas)
e de negro vão vestidas

risco branco seguido
ou incerto tracejado
encurvadas ou corridas

movem os olhos agradados
pela esteva branca rasteira
pelo couto ou pelo montado

pela rocha que faz de cadeira
pelas águas do rio, pelo prado
de mansinho sobem a ladeira

num esforço de aragem agreste
que o calor, por vezes, atraiçoa
surgem os troncos e as folhagens

emprestam sonhos prestes
de descidas sobranceiras
e de sombras e paragens

em barragens e lagoas
matando a sede dos ais
em cada papoila ou girassol

derramam nos corações
inclinados ao por do sol
um abismo de mar

uma brisa a acariciar
o rosto o corpo e o destino
desaguando numa foz de amor

e a gaivota e o condor
sobrevoam as ilusões
pousadas num raminho

ou guardam as crias
num ninho e renascem
a primavera, ou quem sabe, a espera

por um hálito a hortelã
um murmúrio de fado da hera
crescendo rumo à quimera da manhã

evaporam-se num olhar
num poema de encantar
numa sílaba oculta da Terra

e as rodas rolam agora
sabendo que a demora
se deve à beleza que arrulha
no bico das pombas brancas que continuam a voar

Rosa Alentejana Felisbela
22/04/2018
(imagem da net)

Sem comentários:

Enviar um comentário