sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Até já, meu amor


Pretendo matar o poema
da memória:
disparo vogais, à queima roupa
e pronto, fim
da história

mas a sílaba silente e rouca
fica latejando num frenesim
dentro do peito
e tolda-me a visão
escorre-me pelo leito
da boca, onde bombeia
o coração

de súbito renasce a guerra
acesa pelas letras arrumadas
no gatilho da tua mão
murmurando o meu nome
- Perdão!

E eu, soldado raso do amor
deixo fugir a nudez
a alma pura na palidez
exangue de versos
mas plena de abismos
maiores, de solidão

e sopro para longe a ausência
e abraço-te longamente
no perfume de um cravo
que te coloco na lapela
como se te vestisse de mim
uma vez mais
e tu dizes:

- És um caso sem solução!
E sorrindo atiras-me
um beijo
por trás do portão…

Rosa Alentejana Felisbela
03/11/2017
(imagem da net)

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