sábado, 25 de abril de 2015

Infusão


Primeiro perfumaste-me
os sentidos,
em aromas indecentes
que aguçaram o apetite voraz
dos meus gemidos.

Aconchegaste as minhas vontades
ao som da melodia do mar,
enquanto se despia de gotas
sobre o areal dos pensamentos
debruçados
por cima de uma simples
folha de papel.

Depois embriagaste-me
as veias em frases
que não se encontram
nos compêndios da solidão,
porque o calor
afunda-se nos lábios
e arde bem alto,
no coração.

Foi quando alcancei a praia
através das janelas abertas
do prazer,
que senti o arrebatamento
das sílabas húmidas
na minha boca,
sem perceber se existia
uma tónica
ou se o pronome átono
absorvia apenas o outono
do meu entardecer.

Quis acreditar no milagre
da multiplicação das letras
ao toque redondo dos dedos
e numa argumentação de pele
tão delicada
quanto a fantasia escrita na voz…
bebi mais um gole
do chá implantado no teu olhar.

Sou folha
na infusão
do limbo do pecado
onde quero mergulhar
porque cada beijo é átomo
na gravidade da soma
de cada êxtase
no centro do sabor
do teu…ser!

Rosa Alentejana
25/04/2015
(imagem da net)

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