terça-feira, 21 de abril de 2015

Portal


Quedei-me perante o espelho
adornado com figuras de retórica alada
pelo anjo sedutor
e na imagem polida
a vocábulos românticos
descortinei um sonho de afagos tão íntimos,
como o vermelho dos lábios
na pureza do seu alvor.

Ergui os olhos estremados
pela silhueta cristalina e,
segurando a rosa encantada,
senti o perfume florido e profanado
na subida íngreme da colina
onde cultivei versos,
reguei prosas
e aguardei o brotar
da fonte do teu riso celestial.

Quando as minhas mãos tocaram
as nuvens plenas de novidade,
já o branco das sílabas se derretia na boca
em alerta de amor,
enquanto as tuas mãos se entretinham
na brincadeira com os meus cabelos,
ofuscando o brilho das estrelas do meu vestido
numa cadência louca.

Chamaste-me Estrela da Tarde
e acordaste-me no embalo
dos teus braços de musselina,
levando-me a percorrer constelações
de luares escritos em poemas,
encontro natural do ato próprio de estrelas binárias,
numa atração mútua e precária
na órbita do centro da nossa gravidade
num misto de cedências.

E as palavras…grávidas de desejo
vibraram-nos nas vozes mudas…
cobertas do calor galáctico
do beijo barrado de futuro
e num momento mágico
transpusemos o portal aberto no espelho,
surgindo a esperança ainda…nua
de tanto sonhar!

Rosa Alentejana
21/04/2015
(imagem da net)

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