domingo, 13 de setembro de 2020

Coração partido

Era um dia de maio. As nuvens escuras rasavam os montes. O sol envergonhado, espreitava por entre elas com uma força desmesurada. Haviam combinado encontrar-se junto ao banco de madeira, perto da árvore mais frondosa do jardim. Ele chegou cheio de palavras complexas. Ela a seguir, cheia de luz amorosa. Um abraço desesperado ficou por dar, entre eles. Os sorrisos tristes brincavam como as sombras da ramagem. Sentaram-se como tantas outras vezes e depois de as bocas atirarem perguntas sem respostas, os corações esmoreceram. Ele pediu-lhe um beijo. Ela rendeu-se à saudade. O beijo amadureceu veias, adocicou sonhos e promessas nunca feitas: ambos se afastaram e murmuraram “que saudade”. Ele disse que era tarde. Ela respondeu que se perdera na estrada e que não importaria o caminho. Mas ele levou as palavras nas costas e desapareceu na estrada de pedras. Àquela hora os pardais completavam a árvore e o ruído era ensurdecedor. A partir daquele dia, à mesma hora, os pássaros nunca mais deixaram a árvore, em qualquer estação. O ruído abafava os pensamentos de ambos, para não se recordarem um do outro. Rosa Alentejana (Felisbela Baião) (imagem da net)

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