domingo, 9 de agosto de 2020

sapatos de tacão alto


Na minha rua havia uma senhora muito fina. Costumava andar maquilhada e com sapatos de tacão alto. Eu achava-a linda. E ela gostava de me ter lá em casa. Não tivera filhos e adorava as minhas conversas. Dizia que eu era muito inteligente para a idade. Tínhamos conversas “sérias” sobre aprendizagens na escola, sobre a minha futura profissão de cabeleireira ou professora. Ela dava-me muita atenção, enquanto fazia o almoço. Às vezes dava-me rebuçados. Um dia encontrei-a muito atarefada a fazer limpezas e fui conversando, enquanto fui ao quarto dela. Calcei uns sapatos com tacão alto, e andei a passear-me por ali a brincar. Quando tirei os sapatos, verifiquei que um dos saltos estava torcido. Tive medo de lhe dizer e fui embora, sem dizer adeus. Ela estranhou e foi ver o que se teria passado. Quando chegou a vez de a minha mãe saber, fiquei uma semana sem poder ir a casa da minha vizinha, e a mãe pagou o arranjo do sapato. A minha vizinha não queria nada disso, porque adorava a minha companhia, mas compreendeu a decisão da minha mãe. A partir daí, só andava com os sapatos com tacão alto com autorização da minha vizinha, e com todo o cuidado.

Rosa Alentejana (Felisbela Baião)

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