quarta-feira, 8 de maio de 2019

Liberdade de sonhar


"Se atravessar a aldeia montado no meu cavalo, chegarei mais depressa, mas se for a pé, verei mais coisas e os meus amigos convidar-me-ão para entrar em suas casas ..."
(in Papalagui)
Deixei a Casa do Professor para trás, no meio do branco das moradias lembrando os Mouros. As nuvens cinzentas abraçavam o sol, num namoro tímido e espaçado. A estrada havia rasgado os campos e seguia negra por baixo das rodas da minha viatura. Pensei na liberdade, de cabelos ao vento cheia de aromas primaveris e de sorriso no rosto. É bom poder usufruir da Natureza, do ar mais puro…A berma da estrada, enfeitada de magarças e papoilas, captava o meu olhar livre como o vento. Embrenhada em pensamentos capazes de fazer transbordar positividade do coração cheio de alegria, senti o alvoroço das asas de uma cegonha e imaginei-me a voar. A vontade de peito em quilha, a decisão de bico longo, e todo o azul do céu entrando pelos olhos, cruzando as asas brancas num mimoso planar… O pouso sobre a rocha num riacho ruidoso, ou por cima de uma amendoeira em flor, ou sobre as terras barrentas, o poder de resolução agarrado às penas e a esperança nos caules das plantas… Diminuí a velocidade e reparei que estava a chegar a casa. Só então me apercebi que vinha a poluir o ambiente no meu automóvel e que isso não era justo, embora o livre-arbítrio me permitisse deslocar da maneira que quisesse. Mas não podia ter ido a Aljustrel a pé, separam-nos alguns quilómetros… Ocorreu-me que tenho que fazer mais caminhadas ao ar livre. Livre como eu!

Felisbela Baião

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