domingo, 4 de março de 2018

“Post-it”


Deixa-me fechar a porta atrás da dúvida. Mas lembra-te que a primavera irrompe na sua frescura precária e extenuada de água seca. De onde estou, vejo o pequeno ponto branco da floração dos alámos, e ele alastra na minha mente, qual linho tecido na tecitura da minha pele. Atravessa-me constantemente os lábios, como gume, num nome tresloucado de fundura. Agarra-me os braços como hera, antigamente, e prende-me os pés como visco, bem presente. Encurrala-me as raízes da mente – demente – desmentes? E acabo por abrir a porta para a desordem do costume, ou a janela, num impasse conveniente. O confronto não interessa a ninguém! A não ser que o vento venha e polinize as sílabas que me enchem a boca, numa teia emaranhada de marés de seda opaca, e da metamorfose eclodam aguaceiros difíceis de explicar na previsão meteorológica. Pode ser que a agitação marítima traga Ennio Morricone a tocar a balada dos nossos desertos e só os corações batam entendimentos. Tradicionalmente, só o lápis corre pela folha de papel, repondo as estradas cortadas pela neve atemporal. Só a inquietação da escrita fica no “post-it” na porta do frigorífico, com o recado do costume: “Sorri: estás a ser amado!”

Rosa Alentejana Felisbela
04/03/2018
(imagem da net)

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