sábado, 3 de junho de 2017

Silenciosa


Há um desalinho
enigmático na casa
- abandonada -
sem postigo na porta
e de tinta desgastada

só o batente ruidoso
acorda o demorado segredo
que ali existiu

o fino fio de amor
partiu-se
mesmo no centro
da sala

e gritou na sua voz
voraz
para o telhado oblíquo

- eco que a noite calou -

e as janelas, sem paz,
espreitaram o cheiro
da cal caída
e das escadas
penosas

- fugaz
porto de abrigo -

e a palavra “amor” embalou
um espelho imenso
e espesso de mudez
que olhou fixamente o quarto
onde faíscas efémeras
tomaram, outrora, palavras insanas
como tranquilizante
da insónia

- essa que a cama emana -

e mesmo a sombra
nas ombreiras salitrosas
esqueceu as teias
que as aranhas
- obreiras poderosas -
costuraram ao longo
dessa casa
silenciosa.

Rosa Alentejana Felisbela

(imagem da net)

Sem comentários:

Enviar um comentário