domingo, 3 de maio de 2020

Palavra


Conheço a tua magia. Desafio-te a quebrares a palavra na parede da tua casa. Cruzo os dedos atrás das costas, pedindo sorte e conto-te: ainda brinco, nas sete noites de Lua cheia, com as tuas mãos no meu corpo, sábio. Mestre de quiromancia, conhecendo as linhas todas da pele, não havia local algum sem saliva. A sede gemia na minha boca palavras insondáveis, mas tu, vedor confesso, encontravas os veios subterrâneos e conhecias a nascente. A seara restolhando deleitava-se pálida de noite, enquanto eu encontrava um trevo de quatro folhas para te ofertar. Mas, era sexta-feira e enganaste-te na encruzilhada. Um cão uivou ao longe e eu fiquei à espera, perto da fonte. Só a tua sombra me procurava. O meu rosto, lívido de lágrimas, recolheu as palavras e recolheu-se à solidão das paredes brancas. O trevo ainda se encontra entre as páginas das minhas janelas abertas. O vento sopra-me histórias ao ouvido, mas tu não quebraste a palavra na parede da tua casa. Eu saberia. O meu sexto sentido não me engana!

Rosa Alentejana (Felisbela Baião)
03/05/2020
(imagem da net)

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