segunda-feira, 11 de maio de 2020

Barcaça


Quando as ondas envolverem o teu corpo, inspira o último suspiro do meu, enquanto nos amámos. Fui fragata firme nas monções, fui barco de casco rijo nos temporais, mas fui casca de noz nas emoções. Eleva-me à tona, agora, não me deixes naufragar. Ainda agito o meu braço, apesar da dor, para saberes o caminho para voltar. Porém, não tornas a vir, és marinheiro de água doce, mantendo, em cada porto, uma sereia que te encanta o cantar. Mas nunca escutaste a minha voz, nunca provaste o meu licor, nunca te dei do meu pão. Como poderias morrer de saudades, de sede ou de fome? Naquela ilha encantada, já não te espero. Ouves o vento a sussurrar? São as vontades que encerro, e abandono a barcaça, se um dia te encontrar.

Rosa Alentejana (Felisbela Baião)
11/05/2020
(imagem da net)

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