sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019
Aeroporto
Antes da lembrança
apenas havia
a linha dos carris
hoje pondera-se a segurança
e o gasto de energia
-faltam pingos nos is-
Preocupa-nos o impacto
no ambiente?
E o absurdo fator poluente?
E vai mudando de lugar
o conflito, o interesse
- a estudar no presente-
Reclamam as aves?
Desenvolve-se o comércio
e o ruído
A razão está de
que lado?
Do silêncio, do político…
Onde está o dever?
No efeito colateral
ou no medo?
Quem vai proteger
de acidentes
o ar, o solo de Portugal?
Em nome do meio
envolvente
qual o benefício, afinal?
Rosa Alentejana (Felisbela Baião)
(imagem de pesquisa google)
domingo, 17 de fevereiro de 2019
Da falta que sinto
Tenho frio:
sopro para as mãos
em concha,
mas a náusea,
o vazio
escavam-me a pele
em caminhos vãos
de terra húmida
de húmus humano
e de silêncio quebrado
pelo canto gritado
do pássaro negro
sobre o cedro
e o pranto…ai o pranto
é espinho cravado na garganta
e as lágrimas
(tantas!)
toldam-me a visão
e a razão
esvai-se
num segundo
voltando depois
do bombear arrítmico
do coração
Rosa Alentejana (Felisbela Baião)
terça-feira, 5 de fevereiro de 2019
Respira a terra
Entre as folhas
da clareira
o sonho aberto
o ribeiro desperto
chilreia ao longe
- o som -
o cheiro molhado
pintado
de sombras bordadas
nem uma brisa ecoa,
só a folha do abeto lento
movendo…
ar eterno
e secreto
por dentro de mim
na paz do ninho
o bico aflora
a pena
medita o galho
e o gaio voa
em flocos de céu
zumbidos de abelhas
num labor
num amor
que adoça
o frescor da sílaba
- sim -
debaixo da rocha
tenra
a terna terra
a raiz da relva
a seiva, a selva
feliz
Rosa Alentejana (Felisbela Baião)
05/02/2019
domingo, 3 de fevereiro de 2019
O melhor companheiro
Lembras-te? Ele cruzava a rua a correr desesperado, como se não houvesse um amanhã para concretizar o que tinha em mente. Não se importava com o frio cortante, ou com o calor estonteante. Tinha um fito. E nada o poderia demover. De nada adiantava gritar-lhe e pedir que tivesse cuidado com os carros. Eles haviam de parar quando o vissem. Mas o que mais te confrangia era esse desejo que ele tinha por cheirar a parte traseira das visitas. Por mais que lhe pedisses para não fazer isso, instintivamente, ele tinha que saber informações sobre as pessoas, tal como fazia com os seus amigos. Saltava-lhes para o colo, e havia quem detestasse. E tu, da forma mais gentil que conhecias, pedias para estenderem a mão no sentido de que ele pudesse cheirar e deixá-los em paz. Uma vez, quando uns familiares vieram visitar-nos, ele fez xixi na perna das calças da tua irmã, o que te deixou envergonhado (eu ri-me imenso). Porém, era a sua maneira de expressar o nervosismo de ver tanta gente em casa, habituado a ver apenas três pessoas diariamente. O carinho que ele demonstrava ao ver-nos chegar a casa era algo que te deixava encantado, recordas-te? Os saltos, rodopios, corridas em círculo à volta da casa, uivos e derrapagens, deixavam-me tonta, mas divertida. O pior de tudo era quando tu atendias o telefone. Primeiro sentava-se a olhar para ti. Depois latia bem alto. A seguir ia buscar o comando do televisor ou outro objeto que te fazia falta e roía-o…Ficavas irritado e tinhas que pedir desculpa e desligar o telefone. À hora das refeições sentava-se a olhar-nos com olhos de quem não comia há semanas. Depois levantava as patas e batia com elas nas nossas pernas, para que lhe déssemos atenção e caísse alguma coisa na sua boquinha gulosa. E naquela vez em que eu chorei e ele veio para o meu colo, muito atento, a ganir e a lamber-me as lágrimas? Abracei-o e ele não me deixou sem que eu parasse de chorar. E sempre que tinhas uma ferida? Ele ia sempre tentar lamber o local, como se o quisesse curar…Na rua era diferente. Lembro-me quando tu ias passear com ele. Em pequeno, eras tu a “passeá-lo”, puxavas pela trela dele porque queria cheirar tudo e deixar a sua marca em todos os contentores de lixo. Depois que ele cresceu, era ele a “passear-te”, mal aguentavas segurá-lo por causa do porte pesado e cheio de vigor. E são assim os nossos animais: mimados, mas os melhores companheiros. Alguns são tratados como se fossem da família que os acolhe. Outros são tratados de forma desumana…
Rosa Alentejana (Felisbela Baião)
(imagem da net)
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019
Não desistas...
Levanta os olhos para o voo das retinas. Repara que são meigas bailarinas levantando o vestido, a preceito, mostrando os sapatos e a vida, o conceito, correndo mesmo ali ao lado! Segue o retorno com afinco e rodeia o ombro amigo com calor. Sente o contorno do corpo, emanando o amor. Releva a cor que parecem ter os montes, procura sentir o perfume das flores e o sabor da água pura das fontes! Bebe a pureza do respeito e coloca a sobriedade a teu jeito. Depois abre as asas e sonha, não desistas! Deixa que o teu poder se sobreponha, porque a vida é curta e o amanhã está para vir.
Rosa Alentejana (Felisbela Baião)
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