segunda-feira, 21 de julho de 2014

Sonho de lua cheia


Fogem-me os olhos pelo dia
e perco-os uma e outra vez
na demanda p'lo teu sorriso
ou da marca que ele me fez
e de que tanto preciso...

Deito os olhos sobre a almofada
numa tentativa de tranquilidade
como se a noite traiçoeira
me trouxesse a felicidade
há muito por ti roubada...

Por fim, cansada escuto a água
corrente do rio da vida
mas o meu corpo é da tristeza frágua
mordendo a pele da despedida...

Um dia sonharei o teu rosto
nas minhas mãos ternurentas
e na boca sentirás o gosto
da vontade que sustentas

E sonolenta acordarei a noite temperada
de lua tão cheia e, no entanto, baça
e nos teus braços, minha madrugada,
sentirei a minha pele abraçada

Rosa Alentejana
17/07/2014
(imagem da net)

sábado, 19 de julho de 2014

A tua própria magia


Rodeio-te com as mãos
num carinho supremo
como se a vida fossem gestos
vãos
e eu te pudesse defender
do mal que tanto temo
Abraço-te com a raiva
que me dão os teus gritos
de tristeza
como se a noite, que nos priva
da luz,
me trouxesse os defeitos
e com ela os teus medos

Eu só quero proteger-te
do desconforto
e insegurança
e tão só orientar-te
como se mais nada
pudesse ficar
na tua lembrança

Mas já não és o menino
que procurava o meu colo
quando desconhecias o destino
e recebias o meu consolo
por um instante
como se a existência
fosse o minuto expectante

Agora vives na tua rotina
e nos dias que passas
longe de mim
nessa espécie de jogo
que te alucina
e que parece não ter fim

Abre os horizontes
que tens ao teu lado
num bafo curado de alegria
transpõe os montes
e as pontes
num passo acordado
à luz da tua
própria magia!

Rosa Alentejana

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Por enquanto...


Ainda sou eu a personificação
dos beijos que esqueceste
no amor sobre o leito
queimoso, subjugado à inspiração
e no vogar à toa perdeste
o rumo ao barco ardente e perfeito
que ancorara no meu coração...

Ainda sou eu a aliteração
deleitosa do teu prazer
que envolve os teus abraços
na louca e doida ambição
de escutar o som dos teus passos
e aos poucos voltar a viver
como flor a florir
no jardim do amor devasso
com as cores do entardecer

Ainda sinto um crepitar crescente
no ventre da doce palavra
quando a tua língua sente
o fogo que em mim lavra
e fendes-me os meandros ternamente
na polifonia das nossas canções
fogueira brava
germinando labaredas fulgentes
mar imenso de lava….

Mas perco-me instinto sequioso
dormente nos versos orvalhados
pelas lágrimas do negro tenebroso
da ausência cantada nos oráculos
onde se dissipa a letra vadia
das sombras dos sonhos
que apagas
a cada dia

E por enquanto vivo
nas asas da magia de algum lugar
abraçada ao desejo sensitivo
que tenho para te dar…

Rosa Alentejana
(imagem da net)

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Medo



Por tudo aquilo que foi por ti experimentado
E p’lo reflexo dos olhos que te condena
Esmaga-te a dor d’escrever sempre serena
Com a pena sentindo tudo o que é inventado

E até a fronteira timbrada a dó tão plena
Da força inexistente no teu rosto lívido
Pelo medo, tantas e tantas vezes indevido,
Dói mais no palco ao viver aquela cena

Quando o desnorte te amarfanha e agarra
Com as mil mãos tenazes cheias de cegueira
De tanto querer viver nessa luz, por si bizarra

Que brilha ao fundo daquela noite galhofeira
Quando o bater dos dentes nessa bocarra
Da ânsia acalma, ateando de novo a fogueira

Rosa Alentejana
(imagem da net)

domingo, 13 de julho de 2014

Anjo


Sou um anjo sem luz mas cintilo
ao som desse vácuo torpe criado
às palavras do teu malfadado fado
num suspiro onde sempre vacilo

Enroscada no isolamento me invento
ave feliz voando no cabo do silêncio
num firmamento azul, puro e fictício
esquecida da dor e do sofrimento

E abro as asas em forma de coração
pois, que as nuvens onde me deito,
são de franca, rara e doce gratidão

pelas bênçãos com que me enfeito
anos, dias e noites, até à exaustão
servindo-me a esperança… de leito

Rosa Alentejana
(imagem da net)

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Por dentro da mágoa


Vejo ao longe o teu enorme e doce mar
e sinto em mim esta tortuosa saudade
de um dia, quem sabe, vir a ter a liberdade
de nos teus olhos, por um instante, mergulhar

Mas, aos poucos perdes-me por dentro
e vais matando o grito daquele desejo
onde a fome na boca pelo quente beijo
vai definhando e perdendo o seu centro

Apenas a dolorosa solidão dos meus dias
se vai escapando por entre os dedos
como areia fina, ensimesmada p’los medos,
vai ocupando as ampulhetas outrora vazias

Apenas os meus olhos, rasos de água,
como crentes em peregrinação perdidos,
na foz dos teus horizontes desconhecidos
sabem do sal que toca e arde na minha mágoa

E converto-me em praia nua e isolada
longe de falsos e ambíguos olhares,
volto a colocar os sonhos nos lugares
como se a vida jamais pudesse ser alterada.


Rosa Alentejana
11/07/2014
(imagem da net)

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Sofrido


Rasgas as folhas
que te amordaçam
sem esperar que haja recolhas

agora atira-as ao vento!

depois aguardas que se desfaçam
na brisa deplorável
do desejo que jamais sacias

agitas o grito inevitável
da morte que adias
por um pouco de alma

num momento nunca existido
presa ao fio que arranhas
chamas a chama

chamas a calma
num instinto perdido,
mas quando olhas…

não há nada

apenas o pesadelo
de cada dia
sofrido.

Rosa Alentejana
07/07/2014

sábado, 5 de julho de 2014

Foi por ti


Por ti desfolhei os dias
como árvore de folhas perenes
em tempo caduco,
e tu sorrias,
como se os convencesses
a ficar mais um pouco

Por ti mergulhei no silêncio
das vagas fraudulentas
quando um sopro uivava
nas folhas
barulhentas

Por ti roubei essas folhas
brilhantes de fantasia
e guardei-as, meu tesouro,
nas palavras onde te segredei
poesia

Por ti fui ave em pleno voo
e sobrevoei a sombra
que do teu corpo sobrou
quando o tempo
escorregou
das tuas mãos
e não mais voltou

Por ti tornei-me raiz
exposta ao destino
que me quis
e me abraçou
num laço apertado
ferino
cruel
depositado
na margem de um
qualquer papel

Ah! Por ti...
arranquei os ramos
para não mais voltar a nascer
nem um poema!

Mas na sorte extrema
de não te ver
encontrei-te bálsamo
à luz da lua
nu
de versos
e voltei
a escrever!

Rosa Alentejana
06/07/2014
(imagem da net)