Tenho mesmo aqui no peito
Uma espiga nova a crescer
Ora, se faço nada de jeito
Como foi isto acontecer?
O meu corpo tornou-se seara
O meu coração fez-se papoila
Tenho um sorriso aqui na cara
Não tenho quem o recolha
Sou a fonte onde brota o pão
Nestes tempos de escassez
Minha boca fechada em botão
Não canta de tanta timidez
Procuro a água bem fresca
Nalgum rio aqui por perto
Mas a sede molha-me a testa
E tenho o desaire aberto
Não penteio os cabelos
Não me visto a rigor
Sou fiel aos pesadelos
Meus olhos não têm cor
Tenho uma espiga no peito
E uma papoila no coração
Sou o campo com defeito
Esqueci-me da satisfação
Moro no morro onde choro
Respiro o ar que me sufoca
Não quero saber do decoro
Que o poema me provoca
Rosa Alentejana (Felisbela Baião)
(imagem da net)
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