domingo, 31 de agosto de 2014

Lembro-me como se fosse hoje


Ainda te guardo na retina destes olhos morrentes
quando de tantas saudades me choram lágrimas
de rios correntes…

Ainda me lembro bem do teu rosto de papel cândido
que com o tempo se transformará em papiro
único desejo que me foi permitido…

Ainda te vejo naquela esquina, de uma eventual cidade
perdida ou encontrada, no meio de tanta gente, sem ninguém
no breu, ao por do sol, na claridade…

Ainda sinto o formigueiro nas mãos, na vontade de te tocar
um segundo, um minuto, uma hora, o dia inteiro
ou por toda a eternidade…

Ainda os meus olhos brincam na sede daquele contacto efémero
com os teus, misturando as minhas e tuas cores
num arco-íris sincero…

Ainda o meu coração esmorece quando te sonho ao som do tal piano
pois, sei que o teu rosto cria ruas, e os teus cabelos luas
e não conheço os quartos crescentes do teu quotidiano…

E ainda me sento no café onde, naquele dia, nos encontrámos
e bebo o chá quente cheio de fé nas cadeiras vazias
repletas do tempo que nunca desperdiçámos…

Ainda o riso das crianças me chega aos ouvidos e ouço a água a fluir
da fonte da esperança, ali tão perto,
e que continuamos a deixar fugir…

Ainda me lembro…como se fosse…hoje!

Rosa Alentejana
31/08/2014
(imagem da net)

sábado, 30 de agosto de 2014

Sombra


Hoje despertei cedo a madrugada,
derramei-lhe luz pela janela,
aos poucos,
para não a amedrontar

E descendo a rua
descobri que descendo
do clã do sol

Porque ao arrastar
o lençol pelo caminho
abandonei a cama
num banho de luz

mas de que me serve
o oceano do ninho criado
se é de sombra o dia
quando não estás
a meu lado?

Rosa Alentejana
30/08/2014

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Manhã embrumada


Sinto-te no orvalho da rosa
pela manhã
embrumada,
no cheiro a frescura calada
e no sabor a menta e hortelã
no alvoroço da desfolhada

Pressinto a tua mão
no silêncio do afago
e na lágrima chorosa
que me atormenta
as cordas vocais
e não me tocas nem sei do chão
que pisas quando te vais

Pois o meu jardim de horas
alberga a dor da tua ausência
na seiva dos dias que passam
num roçar
da inocência

Por um fino fio de luz
brilhante…nas asas das aves
que esvoaçam
e ainda adivinho o teu sorriso
no arco da íris do teu olhar
quando um beijo meu, sem aviso
nas tuas mãos vai poisar

São sacrilégios ímpares
que me permito
sonhar
pois, de ti sobra-me
o verso escrito
na sintonia
do acicatar

Só não conheço de cor
esse hálito
que tem a esperança
na boca da tua
lembrança
na manhã
de raro esplendor…

E presa ao sereno despertar
abraço o meu corpo
na suave toada
de um violino a tocar
na lonjura de um futuro
sem ti, sem mim, sem nada!

Rosa Alentejana
29/08/2014
(imagem da net)

Respeito


R_ejeito qualquer carícia em forma de palavra doce
E_ tu conheces os beijos de que falam a minha boca
S_ão feitos da atenção encoberta em gesto precoce
P_ousado numa vontade que amaria fosse recíproca
E_rro crasso o da minha imaginação que de matéria
I_nglória se reveste…resta-me a ilusão fantasiosa
T_alhada nas malhas de uma odiosa e triste miséria
O_nde me rendo à única amizade despretensiosa

Rosa Alentejana
28/08/2014

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Verdades silenciosas


Hoje amanheceu-me a alma da madrugada
ainda a luz se preparava para desabrochar
por entre as planícies que o rio vinha beijar
numa metamorfose latente, copiosa, ousada

Como os braços de quem escolheu o mar
para desaguar as vontades nessa enseada
de beijos perdidos numa fortuna rasurada
por um infinito de tempo extenso e invulgar

Escalaram-me versos nas ideias sinuosas
do estio, desfiladeiro diminuto do presente,
e não nasceram estevas, papoilas ou rosas

Só brotaram dos dedos empobrecidas prosas
que te ofereço como a única prova evidente
deste desejo e verdades sempre silenciosas!

Rosa Alentejana
26/08/2014
(imagem da net)

domingo, 24 de agosto de 2014

Ah! Esses lábios


É nos teus lábios que eu gozo demoradamente
esse sabor a satisfação completa onde ostentas
fragmentos de atrevimentos, vontades sedentas
que inflamam o meu corpo descontroladamente

E aí me detendo, num deleite feito de lua, fugaz
no céu desse paladar contido, delicado e interdito
como oração casta, num apetecer doce e bendito,
que me morde e flagra o meu gosto louco e audaz

É essa boca o capricho desta minha alma tão pura,
a fonte sábia de tantos versos plenos de devaneio
onde procuro e procuro incessantemente a ternura

de um beijo molhado de desejo e de doida loucura
ausente de calma, de chão, ou de qualquer rodeio
tudo que me faz mulher feita de desmedida procura!

Rosa Alentejana
24/08/2014

sábado, 23 de agosto de 2014

Linguagem do amor


Perguntas-me o que faço hoje?
Pois bem, não te digo o que faço, mas o que gostaria de fazer.

Gostaria de chegar perto de ti e rasgar-te os verbos, um a um…tocar nos pronomes que me enlouquecem com as pontas dos dedos, senti-los nas faces e beijá-los, enquanto o perfume dessa semântica em tons de lua se instala nos meus sentidos.

Gostaria de aceitar os teus advérbios na surdina da nossa vontade, que arde, arde e queima até não mais poder! Porque me enlouqueces, mas fazes-me viver!

Gostaria que fossem apenas de afirmação as nossas vontades famintas, pois já não sinto o medo que o coração semeia e pinta no carmim da pele, sem tintas…

Gostaria que o teu nome me envolvesse a boca delicadamente, sendo esse sabor o único que o meu corpo sente! Sendo a saliva do desespero a rouquidão benevolente patente nos nossos olhos, implorando pelo vocativo…sussurrando aos nossos ouvidos…

Gostaria de derreter-te enquanto sujeito subentendido nas minhas frases, mas sem vírgulas, para que soubesses como podem ser loucos os beijos vindos do “quase” escondido nas fábulas que tantas vezes fazes!

Por fim, adorava que o teu complemento me penetrasse o campo lexical lentamente, sem verbos auxiliares, para que a oração copulativa se tornasse na melhor explosão de poemas invulgares!

Será que expliquei com clareza ou precisas de mais esclarecimentos?

Rosa Alentejana
23/08/2014
(imagem da net)

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Serei a tua sereia


Tu sabes que um dia, um dia qualquer
serei eu a sereia saindo do doce mar
destas letras, amor…ou apenas mulher
envolta nas ondas do teu secreto olhar

Mergulharás comigo nestes olhos verdes
(sim, ainda mais verdes que as vagas)
onde tu sempre embarcas e retrocedes
em delírios na vontade, a tal que afagas

É ela que te cega toda a noite, dia a dia
e te quebra por dentro, tal como cristal,
essa mesma que um dia te dará a ousadia
para me dizeres o quanto sou para ti especial

Sim, amor, ao pescoço trarei um colar de corais
repletos de cores e sedes de maduros beijos
e na minha boca rubra e quente, eivada de ais,
submergirão e virão à tona constantes desejos

Nos seios trarei a brisa fresca da madrugada
aguardando em desnorteio as conchas que trazes,
enquanto emanarei a maresia da pele perfumada
e embriagarei os teus sentidos de toques audazes

E até o meu ventre será o delta perfeito
para as tuas marés em forma de consoantes
enquanto as vogais farão de ti aquele sujeito
único, para os verbos que encerro, flamejantes!

Rosa Alentejana
22/08/2014
(imagem da net)

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Enigma


Estão os meus olhos cansados
de tantas palavras e versos
vertidos em papéis dispersos

Poemas inacabados de letras
loucas de tanta paixão
onde, noite após noite entras
e baralhas o meu coração

Num vocábulo ambíguo, surge o sol desalinhado,
como se faltasse uma vírgula
na frase de futuro enevoado
para explicar a súmula
o fado…respirado a verbos suaves
conotados com a imaginação

Estão os meus olhos cansados
de tantas aspas e entrelinhas
quando os pingos dos is são céus estrelados
formando constelações que, ternamente alinhas

Nesse caminho que desconheço
perco-me muitas vezes,
mas humildemente te peço
para desvendares, revelares
o enigma!
Rosa Alentejana 20/08/2014
(imagem da net)

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Tolerância


Tomara os dias em que todos admitam, de forma
Ordeira, os modos de agir e de pensar ou sentir
Longe de intransigências respeitando a norma
Em que todos são iguais, embora diferentes
Razões para sermos felizes mais do que suficientes
Apesar dos radicalismos que devemos distinguir
Não existe quem não tenha direitos
Como têm plantas, pessoas e animais
Incoerentes são os que só pensam nos feitos
Aliados a ganâncias esquecendo que estas são coisas banais!

Rosa Alentejana
19/08/2014
(imagem da net)

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Fé na vida


Sinto-me alga colorida neste mar de mel e emoção
Abençoada em todas as miríades de madrugadas
Em que o vento sopra à superfície as doces vagas
Que transformam meus sonhos em grata inspiração

Com ela derramo versos na areia e descrevo a porção
De felicidade que levo ancorada às noites enluaradas
Quando os reflexos de luz atravessam águas salgadas
E espelho toda a paz e alegria que vai no meu coração

Descrevo o marulhar dos meus pensamentos encobertos
O mergulho na profundidade da esperança que me abarca
E contemplo o vasto oceano onde guardo nos firmamentos

Os poemas que deixam em mim a sua doce e terna marca
Quando as letras se juntam e passam de ténues filamentos
A murmúrios de fé nesta vida que é tão sublime e tão parca

Rosa Alentejana
18/08/2014

sábado, 16 de agosto de 2014

Hediondo


Acredita, meu poeta, nesta verdade
Que escrevo para ti nas entrelinhas
E nelas mostro as saudades minhas
Como o pássaro precisa da liberdade

É nos versos brandos que escondo
O desejo de ti que louco me invade
Quando o início do dia se torna tarde
Para contigo falar, num pulsar hediondo

Deste coração que vive tão apertado
Pelas garras desta imensa solidão
Num misto doloroso de dor e pecado

Como laranja a que roubaram um bocado
E o outro foi lançado, sem remissão,
Para o fundo de um poço escuro e desolado!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Ciente da noite


Quando a noite espalha os seus longos e negros braços
P’la minha vida e todos os lugares que conheço do mundo
Eu olho, mais uma vez, o teu retrato…só mais um segundo
Pois, quero reter todas essas expressões, todos os pedaços

Tudo para que a porta do meu sonho, aquele mais profundo
Fique fechada a sete chaves a todas as mágoas e cansaços
E aberta apenas à tua boca, olhos, sorriso e tão belos traços
Que guardo apenas no meu coração, lá dentro, bem no fundo

Ah Amor! que só nesse sonho bendito escuto o som da tua voz
E sinto tua pele a roçar meus sentidos num doce e quente deleite
Que ali queres (como queres!) derramar na minha melosa foz

E cada gemido, cada sussurro murmurado no meu louco limite
Desaparece, num ápice, nesse instante em que o sonho veloz
Se esfuma na lembrança desse calor tornado frio da noite ciente

Rosa Alentejana
14/08/2014
(imagem da net)

terça-feira, 12 de agosto de 2014

O teu luar


Meu amor! Faz de mim o teu luar
neste meu céu sereno e sem final
e acalenta a cada toque especial
o sol dos teus beijos a sussurrar

poemas de constelações no sinal
que ostentas através do verbo amar
dessa forma carinhosa que sabes usar
nesse jeito apimentado mas informal

inscrito nos versos a vontade debruados
na ponta da folha de branco e pureza
vertida desses dedos tocando os fados

cantados aos ventos velozes da natureza
quando, a cada suspiro, são revelados
os segredos que te escondo da minha certeza!

Rosa Alentejana
12/08/2014
(imagem da net)

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O nosso amor na escrita


Primeiro desperta-me o brilho
perdido nas janelas da alma, outrora ardentes
e afaga-me o rosto sofrido

Segreda-me,
na orla dos sonhos, versos poetas,
palavras risonhas, palavras envolventes
dessas que tão bem conheço,
das tuas lavras eloquentes

Floresce-me a tez já rendida
e sem receios, enquanto afloras
o favo submisso dos anseios,
pontos de exclamação entumecidos
pela falta do ar, pelo mel, tão aflitos
nesse quase-céu da tua língua,
por ela famintos

Desliza os teus dedos
pela interrogação do meu ser
e na trama dos segredos
mergulha a emoção sem pudor,
na devassa vontade
que gera o turbilhão de amor

Depois faz-me rir, faz-me vir
ao encontro das tuas vogais
em ditongos

Como se a sede da espera
fosse um vulcão de consoantes adiado
explodido e saciado
nesta cama de prosa
onde somos lírio e rosa
no jardim extasiado

Porque somos agora
metáfora
em forma de uma única flor
bendita
e é esta a nossa forma
de fazer amor
na escrita!

Rosa Alentejana
11/08/2014
(imagem da net)

domingo, 10 de agosto de 2014

Tu


Deito os meus pensamentos ao mar
Num derradeiro esforço por te esquecer
Mas as ondas teimam em ir e em voltar
Dizendo que és tu a razão do meu viver

Ondas veem e vão sempre diferentes
Arrastando com elas tantos tormentos
Só esses olhos (ah!) de ouro reluzentes
Mareiam os meus versos tolos e cálidos

E mergulham a minha pele na paixão
A que, sem forças, eu sempre me entrego
E incendeiam este pobre e tonto coração

Num veneno imortal, de prosas quase cego
A que cedo, percebendo demasiado tarde,
Que és tu quem me arde e me tira o sossego!

Rosa Alentejana
09/08/2014
(imagem da net)

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Minha inspiração maior


Escrevo-te com a pena
que vai
da minha mão
aos teus olhos
que, cheia de pretensão,
chora por fazer
acrósticos
e por não teres
a noção…

E conto a métrica
dos versos vagos
numa ética
sem abraços
e no fim
sobra-me a letra
da ausência
dos compassos

Sigo os pontos,
todos finais,
e da história
não sobra nada,
para contar
apenas passos
e versos tantos
como beijos
queria dar
nesta infinita
jornada

Balbucio letras
e sílabas
alucino
com as rimas,
mas fica
a pena
na rotina
da folha branca
inscrita…

São meus olhos
poetas brancos
da pureza
do meu amor
vertendo
incertezas tantas
em palavras -
teu corpo -
minha Inspiração
maior

Rosa Alentejana
08/08/2014

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Adorado


Quando o céu salgado de lágrimas
se une ao horizonte desse mar
vagas de dores, vontades pálidas,
embargam o meu penoso rimar

nesses gritos de gaivotas soltas
nos versos calados e mudos
nesse choro imenso das ondas
onde fantasio os meus mundos

viajo no barco perdido do meu ser
rumo a um porto seguro ancorado
ao teu corpo, meu eterno escrever,

de sílabas e de corais tão decorado,
como tatuagens, que no meu entender,
afagam a tua pele num suspiro adorado!

Rosa Alentejana
07/08/2014

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Naufragando no teu olhar


Esse teu olhar é um doce e melodioso mundo
Que jamais eu verei verdadeiramente revelado
Entranhas do ventre do mar, amor, tão profundo
Como fundo e tenebroso se revela o meu fado

Coral em cores constantemente modificado
Como as correntes da vida onde eu naufrago
Sabor que fica do desejo a vontades bordado
Pleno de dúvidas e de certezas tão vago

Ah! Esse olhar fascina a minha pobre praia
E abraça cada margem, cada lugar, cada recanto
Mesmo a areia do tempo que me escasseia

Até quando escondes de mim o teu encanto
O teu sol, o teu calor que, doido, me incendeia
Quando o que quero é ter-te aqui…tanto…tanto!

Rosa Alentejana
(imagem da net)