sábado, 29 de setembro de 2018
Caminho de rosas
Vem, meu amor
pelo caminho de pedras
da tua margem
salva-me do rio de quimeras
desavindas dos teus braços
-traz-me abraços-
e cartas escritas de aragem
doce sem esperas sem fim
que eu tenho um caminho
de rosas perfumadas
para ti e para mim…
depois declama-me o poema
da tua boca na minha
-fome insaciada-
festim…
Rosa Alentejana Felisbela
29/09/2018
(imagem da net)
quarta-feira, 26 de setembro de 2018
Bem-vindo outono
domingo, 23 de setembro de 2018
Perdido e encontrado
A serra sobe sobre a terra moribunda de noite
Mas o crepúsculo alastra alegre o seu dourado
O fio de luz percorre a linha do horizonte
Trazendo o perfume a feno a palha do prado
E a ampulheta do tempo que cai em grãos inseguros
Troca o rumo da distância pelo abraço de trigo puro
Ao peito plano nasce um assomo de desejo partilhado
Nos dias negros carrega a trouxa das tormentas, mas
Toma a sorte em tragos largos e extasiados
O perfil traçado quase no escuro é de amor perdido e encontrado!
Rosa Alentejana Felisbela
23/09/2018
(imagem da net)
sexta-feira, 21 de setembro de 2018
morte de uma alma
Paula Viegas escreveu no dia
14 de Setembro às 12:16
Como é que se mata uma pessoa? Abraça-a como se tivesses nascido com a medida dela e nunca mais lhe toques.
Confidencia-lhe coisas tuas, dizendo-lhe como é fácil falar com ela e nunca mais a procures. Para nada. Olha-a nos olhos e entra-lhe pela alma adentro e depois deixa-a sozinha a tentar entender como saíste de lá. E o que aconteceu. Cruza-te com ela e finge que não a viste. Fá-la acreditar que nada foi de verdade. É assim que se mata uma pessoa...
Acrescento eu:
Há mortes que não se vivem fisicamente, mas na alma. Dentro do peito existe um sentimento que no lugar do sol, planta nuvens escuras, carregadas de chuva. Os dias tornam-se pesados demais para carregar às costas da solidão, como trouxa que leva o amor, a ternura, a fantasia, e tudo o que adoça a alma. Esta definha, torna-se lugar-comum e não acredita no perfume das flores, nem no sabor do mel, e muito menos na raça humana. O egoísmo brota da fonte e mergulha a pele num naufrágio constante. O ar rarefeito condensa-se nos sonhos. E a paz que se come na metade da laranja, azeda na casca. O rosto crispado, os olhos toldados, consomem o sorriso e não existe forma de despertar da dor. A não ser que se abra a janela e um novo dia rasgue os olhos da aurora.
Rosa Alentejana Felisbela
21/09/2018
14 de Setembro às 12:16
Como é que se mata uma pessoa? Abraça-a como se tivesses nascido com a medida dela e nunca mais lhe toques.
Confidencia-lhe coisas tuas, dizendo-lhe como é fácil falar com ela e nunca mais a procures. Para nada. Olha-a nos olhos e entra-lhe pela alma adentro e depois deixa-a sozinha a tentar entender como saíste de lá. E o que aconteceu. Cruza-te com ela e finge que não a viste. Fá-la acreditar que nada foi de verdade. É assim que se mata uma pessoa...
Acrescento eu:
Há mortes que não se vivem fisicamente, mas na alma. Dentro do peito existe um sentimento que no lugar do sol, planta nuvens escuras, carregadas de chuva. Os dias tornam-se pesados demais para carregar às costas da solidão, como trouxa que leva o amor, a ternura, a fantasia, e tudo o que adoça a alma. Esta definha, torna-se lugar-comum e não acredita no perfume das flores, nem no sabor do mel, e muito menos na raça humana. O egoísmo brota da fonte e mergulha a pele num naufrágio constante. O ar rarefeito condensa-se nos sonhos. E a paz que se come na metade da laranja, azeda na casca. O rosto crispado, os olhos toldados, consomem o sorriso e não existe forma de despertar da dor. A não ser que se abra a janela e um novo dia rasgue os olhos da aurora.
Rosa Alentejana Felisbela
21/09/2018
terça-feira, 11 de setembro de 2018
setembro
segunda-feira, 10 de setembro de 2018
A arte do poema
Que sabor tem
a batalha dos nossos corpos
no campo aberto
- coração -
Que som saboroso
do cio do incendio
que não contemos
e as serpentes da boca
e os membros
de cansaço mortos
Que encanto de esgrima
de defesa e ataque
nos condena
a distância
quando em cinzas
cada corpo arde…
Mantemos a estação
no poema
e tudo o que escrevemos
no papel é arte
Rosa Alentejana Felisbela
10/09/2018
(imagem de theresa lillian)
domingo, 9 de setembro de 2018
Homenagem aos oleiros - Beringel
Ontem, dia 8 de setembro foi um dia especial. Os oleiros de Beringel, entre os quais o meu pai, foram homenageados pela Junta de Freguesia e pela Associação de desenvolvimento de Beringel - Badajan. Fica o registo do momento emocionante e de recordações saudosas bem como o texto que escrevi, e de onde foram retirados elementos para o texto patente na exposição. Muito obrigada <3
A olaria – José António dos Reis Baião (Petisco)
São 9 horas da manhã de um dia qualquer, e José Baião (Petisco) levantou-se há pouco. Não por preguiça, mas porque do alto dos seus 79 anos, reformado há tanto tempo, tem direito de o fazer. Tempos houve em que se levantava tão cedo quanto o sol.
A conversa começa pela lembrança da infância. Cerca dos 9 ou 10 anos abandonou a escola e começou a ver familiares a trabalhar o barro, a pedalar na roda dias seguidos e o desejo de experimentar tomou conta dele, até porque tinha que ajudar a ganhar dinheiro para a família, e começou a trabalhar no dito ofício. Recordou que cada roda custava à volta de 50 escudos.
Primeiro trabalhava em rodas emprestadas e começou pelos “testos”, ou seja as tampas das panelas. Cada panela valia 3 tostões na altura. De salientar que a roda onde trabalhou tinha 2 rolamentos - coisa pouco vista na ocasião -, um espigão em aço e uma “rela” em pedra – que é uma pedra com um buraco no meio. Usava uma “linha de meia” para cortar os testos, uma “alpenatra” – que era um bocado de chapéu velho, usado para alisar a loiça - uma cana para medir e desenhar nos potes – dizia-se que era para “dar barriga à loiça”.
Depois passou a fazer infusas pequeninas, que valiam 6 tostões cada uma. Se fizesse um cento ganhava 6 escudos.
Lembrou a casa do tio João (Petisco), lugar onde passava dias e dias a ajudar, com o primo da mesma idade, até que começou a fazer as suas próprias “fornadas” – era uma grande quantidade de loiça que ia a cozer ao mesmo tempo.
Utilizava “formas” feitas em barro para fazer a metade de baixo de um pote, e outras em madeira para fazer a metade de cima dos potes.
Pagava 5 vinténs por “poia” (que era o aluguer para cozer as fornadas no forno do tio). Quando o preço subiu para 10 e 15 vinténs, resolveu construir um forno no próprio quintal.
Contou que levava 12 a 15 dias para fazer uma fornada inteira (desde “galhetas”, “infusas” grandes e pequenas, vasos, potes e até salgadeiras). Cada fornada valia 120 a 150 escudos. Mas houve uma vez em que cobrou 1 conto e 800 por uma fornada mais avantajada.
Recordou quando saía por volta das 4 da manhã de casa com os amigos “Miúdo”, “Russinho” e o mestre Cruz para irem buscar barro às terras, primeiro em carroças – cada uma custava 4 contos -, depois em “galérias” (tratores com atrelado). Às 10 da manhã, depois de terem o barro carregado, já estavam na horta do mestre Cruz, onde o José Baião fazia as sopas de toucinho ou comiam pão com linguiça. Foram tempos duros, mas a amizade entre todos os oleiros era fator fundamental que ajudava a ganhar algum dinheiro.
Os tempos mudaram e teve que emigrar para França. Foi fazer temporadas de 6, 9 ou 13 meses nas podas das árvores de fruto. Mas a saudade da família fê-lo voltar ao barro em Portugal.
Quando abandonou a roda, passou a comprar a loiça a outros e a vender pelos montes neste Alentejo profundo, incentivado pelo padrinho Martinho, de quem guarda um enorme carinho. Depois do pai, foi a pessoa que mais o ajudou na vida. Depois de mais uns anos decidiu reformar-se.
Entretanto já são 11 e 30. Comove-se quando repara que nenhum deles “está cá” e que pode esquecer-se de alguma coisa importante. Por enquanto, continua na arte das memórias, já que a do barro, não a passou a nenhum outro familiar.
Rosa Alentejana Felisbela
quarta-feira, 5 de setembro de 2018
delicadeza
Acordei
Quando partes retenho a cor dos teus olhos, o perfume da tua pele e o hálito da tua boca. Memorizo o som dos teus passos, e o som cristalino da tua gargalhada que invento, como se o ferro em brasa da saudade me tatuasse a memória. Sei que um arco-íris de alegria me levantará, todos os dias, da cama de gotículas de orvalho onde sempre me deito. Carrego os tons cinza da tua partida nas nuvens que me escurecem o olhar. O fardo desse mar magoado de angústia pesa-me sobre os ombros. O piar da gaivota muda de adeus quebra-se em miríades de estilhaços sobre a vidraça da minha janela. Escorrem lágrimas dos beirais dos telhados periclitantes de vidro baço, sob os quais me protejo do temporal. Todas as páginas brancas ficam suspensas no limbo da imaginação cruel, tão cruel! Mas um sopro do vento Norte transporta-me as folhas de um outono em tons de laranja, castanho e amarelo e eu abro as mãos e deixo-as voar. Novas cores florescerão no sacrifício das velhas árvores. Bani as falsas promessas do campo largo da minha visão. Na verdade, limitei-me à curta distância de olhos semicerrados acreditando na tua ausência definitiva. De repente, abro os olhos e vejo que adormeci. Reparo que estás de volta, no teu andar lento e manso, branco, de orelhas afitadas e olhar atento. Somos só nós dois, nesta ilusão de romance de amor. Vens devolver-me os afagos que sonhei. Hoje sorri. Acariciei-te. E sei do teu sorriso porque acordei.
05/09/2018
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)
05/09/2018
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)
domingo, 2 de setembro de 2018
Anuncio Gillette O Melhor Para o Homem Anos 80
Lembro-me de ser uma jovem, nos anos 80. Altura em que as hormonas despertavam para o sexo masculino. As palavras não enganavam, e o anúncio começava com “sentes-te bem, estás sempre bem, queres ganhar”. Toda a geração de 80 sabe a que me refiro: o anúncio da Gillette. Não é pela marca, mas pela forma como foi concebido o anúncio. Perfeito. Só apareciam homens bonitos, em profissões que faziam a diferença, desde os apostadores na bolsa até aos astronautas. Eram jovens atletas, casavam-se com mulheres lindíssimas e tinham filhos perfeitos, a quem ensinavam a fazer a barba com o mesmo creme de barbear, como se se tratasse de algo hereditário. Inclusive a letra da música, deve ter sido pensada ao milímetro, porque ainda hoje sou capaz de a reproduzir. Se a vida fosse assim perfeita não haveria homens inconstantes, mulheres de pensamentos duvidosos e gente infeliz. Não existiria a mentira, nem a falta de diálogo, e muito menos letras silenciosas e amores eternos enquanto duram. Perfeito foi o anúncio. O resto são desculpas para levar a vida numa fantasia de facebook. A vida acontece, mas olhos nos olhos!
Rosa Alentejana Felisbela
02/09/2018
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