quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Tu consegues


Diz-me, quanto do teu tempo ainda sobe a calçada sem ajuda da bengala da sabedoria…Foram tantos os anos abraçados ao campo, servindo horas e senhores, desde o nascer ao sol-pôr…Hoje sabe-te a boca ao amargo bolor do paliativo e o sono come-te as entranhas. Não há senão o bulício da dor e o cheiro fétido da morte a pairar sobre a noite. Mas a esperança espalha-se entre as almofadas aconchegadas a dois. Essas que o destino juntou desde a infância. E a luz da constelação do amor ilumina o quarto crescente do sorriso. Ainda consegues caminhar!

Rosa Alentejana Felisbela
31/10/2018
(imagem da net)

sábado, 20 de outubro de 2018

O mistério que invento


Vacilam hesitantes
as gotas
uma a uma

prendem-se por instantes
nas pétalas
na caruma…

espelham brilhos profecias
lábios sedentos
poemas

luxúria quebranto magia
saudades e alegrias
apenas…

caminho aberto de mundo
passo polido de vento

suspiro de nuvem profundo
no céu encoberto que invento

Rosa Alentejana Felisbela
20/10/2018
(imagem da net)

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Sozinha


Fecho os olhos e fico quieta. Não quero ouvir nada. Só o som da rua que passa pela janela da minha casa. Sim, tenho uma casa que me abriga das intempéries. Mas a vida insiste em colocar-me à prova no gume da faca que corta afiada. Os cortes perversos afluem-me ao cérebro. O coração bate descompassado. Estou tão só, como o sobreiro manso no meio do campo cultivado. Tantas sementes à minha volta e poucas germinam. Devo às raízes tudo o que sou, mas serei árvore suficiente para me manter em pé? Inspiro o ar rarefeito da esperança. Abro as janelas da alma. Deixo arder o sobreiro para me dar algum calor. Sinto o perfume a queimado e a saudade percorre-me as veias. Acredito no que vejo e sinto. Vivo. As pálpebras teimam em abrir-se para a rua que passa apressada pela janela. E eu pego no telemóvel para te ligar. Ninguém consegue suportar as amarguras da vida sozinha.

Rosa Alentejana Felisbela
19/10/2018
(imagem da net)

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Indiferente


Move-se o pensamento
lentamente
pingo a pingo

Como lágrima
estridente
caindo no chão
do caminho

Morde-se a saudade
nos lábios
secos de sol e de estrada
vazia de gente

Doba-se
o fio da meada
da vida que segue
indiferente

Rosa Alentejana Felisbela
18/10/2018
(imagem da net)

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Hoje num lugar público:


Um senhor estava a almoçar com a esposa e a cunhada, quando é abordado por outro senhor. Ao que nos pareceu, não se viam há anos. Este último, pelo modo de falar, era uma pessoa instruída e bem-disposta. Depois dos cumprimentos respeitosos, o senhor bem-disposto pede desculpas e diz: “Com todo o respeito, não querendo intrometer-me, essa senhora é sua cunhada, não é? N B – nota bem: lembro-me dela pequenina e de lhe terem tirado uma coisa que ela não tinha.” Os três entreolharam-se um pouco desconfortáveis e não responderam. Ele voltou a dizer: “N B – nota bem: lembro-me dela pequenina e de lhe terem tirado uma coisa que ela não tinha, sabem o que era?” Eles negaram com a cabeça. E ele responde: “Uma fotografia!”
E foi a gargalhada geral de quem estava, mesmo sem querer, a ouvir, porque o senhor falava muito alto.

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

sábado, 13 de outubro de 2018

Contrito?


Quebramos folhas e pequenos ramos
Com passos de outono perdido
Sorrimos umas vezes choramos
Rendemo-nos ou soltamos o grito
Da chuva do vento
O abandono
A tempestade
De um poema
Que nunca foi escrito…

Rosa Alentejana Felisbela
13/10/2018
(imagem da net)

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Despedida


Se alguma vez a saudade
Tomar conta do teu dia
Vem ler os poemas sem idade
Que te escrevo com ousadia

Lê nos textos e entrelinhas
Saboreia cada sílaba no olhar
Vê como as folhas branquinhas
Revelam a tristeza do sonhar

Mostro-te a falta que fazes
Nos fios da luz intermitente
E como as linhas são capazes
De manter outro desejo ausente

Se não te conseguires encontrar
Nos meus versos e rimas
Talvez não mereças alcançar
A dedicação das lágrimas

Abre o livro das horas belas
Toca os letras a negrito
Lembra os altares das capelas
Venerando o amor mais bonito

E se não vires as memórias
Que me encantaram o coração
Esquece de vez as histórias
Vividas numa outra dimensão

O manto dos sentimentos
Fica-me bem, sem dúvida
Abro a porta ao esquecimento
Deixo entrar a despedida

Rosa Alentejana Felisbela
12/10/2018
(imagem da net)

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

O que procuramos

Queria conhecer a força que tem a roda da vida, que nos move e torna os dias longos ou curtos. Queria a chave, o ínfimo átomo que transforma a mente em pensamento positivo perante uma adversidade. Queria a sequência decrescente para a felicidade. Todos queríamos. Mas, o ciclo é composto por erros e acertos, fases como as que tem a lua. Somos simples seres complexos, expostos ao sol. Cabe a cada um estabelecer o contacto adequado a cada estrela, a cada lua. Não devemos, nunca, esquecer que à nossa volta existem outros com a mesma combinação de moléculas. Partilhar alegrias, tristezas, sucessos e insucessos faz parte da condição humana. Todos nós, alguma vez, iremos precisar de outros, por essa razão devemos trata-los com o máximo respeito, consideração e amor. Olhar os outros nos olhos, chama-los pelo nome, agradecer em atitudes, deixar-lhes um sorriso no rosto, e sobretudo, manter a fé no futuro, são premissas para vivermos mais felizes. Afinal, é essa a nossa meta...

Rosa Alentejana Felisbela
03/10/2018
(imagem da net)