quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

(Des)esperança

Arrasto os passos pela estrada, num movimento desalentado. Sou filha das espigas douradas, tenho no corpo o sol acorrentado. Por isso, tenho a pele morena e mesmo rugas de expressão. Minhas lágrimas são mar salgado, criado p’la imaginação. Meu coração é de papoila serena, minhas veias de céu azul e vento suão. Carrego nos olhos as planícies, ondulando ao som da paixão. Mas meus pés nos tempos difíceis não me dão paz. Apenas solidão. Ensanguentados vão seguindo, por rochas pontiagudas e barro seco, mesmo assim eu vou sorrindo, perante o vazio deste degredo. Ouço ao longe uma voz que chama, e avanço dorida nessa direção. É o rio que corre num turbilhão que me agride, o cheiro da água vestida de limos. Porém, o meu corpo precisa da loucura da luz e da água fria. E eu, lentamente, nua, entro na frescura, lavo-me das tormentas e da ausência de rima. Porque aquilo que sinto é só um poema, despido de ideias ou de esperanças. Aos poucos as frases da boca vão saindo, são versos quebrados, mas repletos de lembranças…

Rosa Alentejana (Felisbela Baião)
05/02/2020

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