quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Duas vidas um destino

O dia queimava as paredes de cal branca e o seu rosto vermelho destilava pequenas gotas de suor, enquanto se abanava com um leque comprado numa loja dos chineses. O vestido de cor rosa colava-se à pele morena, deixando os olhos verdes lacrimosos e os cabelos negros colados na nuca.
Tal como fazia todos os fins de semana, tomara as rédeas do carro a que chamava carinhosamente de “carocha”, mais por causa do tamanho e da cor, do que pela marca que em nada se assemelhava à real, e seguira estrada fora.
Buscava um sítio fresco onde tomar uma refeição leve, para depois se deslocar à praia fluvial perto das Minas do local escolhido. Pedira uma mesa dentro do restaurante, mas este encontrava-se lotado, tendo que ficar numa mesa exterior, exposta ao calor abrasador e ao vento infernal que fustigava, de quando em quando, as toalhas das mesas, o seu corpo magro e a sua sede.
Poucos segundos depois, chegou um tipo vulgar, não muito alto, de careca brilhante e um rosto ameno, desejando refrescar o seu sotaque do Norte numa bebida e local fresco. Obteve a mesma deceção: casa cheia, última mesa perto da senhora solitária.
Gonçalo, o empregado de mesa, convidou-os a ficarem lado a lado. Ambos se sentiram constrangidos, mas dadas as circunstâncias, não se opuseram, afinal, a fome, a pressa e a sede limitava-lhes as escolhas.
Para quebrar o gelo que rangia através da mesa, o senhor apresentou-se dizendo que se chamava Marcelo e que vinha negociar a compra de vinho para o seu estabelecimento comercial no Porto. Ela disse que se chamava Joana e que estava desempregada há uma semana, tendo sido vendedora numa loja de roupas em Beja.
Quando Gonçalo lhes trouxe a carta para fazerem o pedido, após um momento de ponderação, simultaneamente pediram grelhada mista com salada. Após um instante de perplexidade as gargalhadas fizeram-se ouvir. Continuaram a conhecer-se um pouco mais, ela um pouco mais recatada, ele um pouco mais entusiasta. Após a chegada do menu das sobremesas, ambos, mais uma vez, pediram sericaia.
Começavam a sentir um clima interessante entre ambos, como se o conhecimento existisse desde sempre. Os dois se afirmavam solteiros e tinham uma tarde inteira pela frente. O calor amenizou-se perante os seus olhares, mas os corpos continuavam a sentir a necessidade de um bom refresco. Pagaram a conta e saíram do restaurante.
Um a seguir ao outro seguiram o mesmo rumo na estrada. O destino iria levá-los a um local fresco…

(Desafio proposto pela minha amiga Ana Maria Santos)

Rosa Alentejana Felisbela
10/08/2018
(imagem da net)

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