domingo, 1 de março de 2020

Sobre princesas


A princesa chamava-se Sara
Tinha um vestido comprido
Na cabeça uma bela tiara
Mas não tinha um marido

Passava os dias a bordar
A pintar, tocar ou escrever
Tinha tudo para agradar
Até um príncipe aparecer

Colocava-se sempre à janela
Olhando para o vasto horizonte
Nem um cavaleiro p’ra donzela
Se lembrava de passar a ponte

Um dia, passeando no jardim
Com as suas donzelas e aias
Parou diante de um jasmim
Levantou um pouco as saias

Subiu uma escada empedrada
Nos seus sapatinhos de couro
Sentiu-se um pouco amedrontada
Com receio de cair no bebedouro

Estava um cavalo a beber sedento
Daquela água da fonte fresquinha
A princesa teve um pressentimento
E assim deitou a correr sozinha

P’lo caminho no pajem esbarrou
Mas nem lhe prestou atenção
Desculpou-se e ele se apaixonou
Ela só corria louca para o portão

Mas quando chegou ao salão
Viu um rapaz em tudo atarracado
Uma vozinha que parecia de anão
Olhou-a sem modos embasbacado

Numa vénia respeitosa sem vontade
O estranho rapaz cumprimentou
Mas nenhum dos dois, em boa verdade
Pelo outro sequer se encantou

O pai percebendo o engano
Evitou a palavra “casamento”
Pediu que tocassem piano
Deixou-a sair por um momento

Seus olhos tristes passaram
Nos estábulos bem perto
Com os do pajem se cruzaram
Todo o pátio estava deserto

Começaram a conversar
Como se fossem conhecidos
Ela pronta a desabafar
Ele a oferecer os ouvidos

De repente tudo mudou
Ficou claro como a primavera
E um amor tão profundo
Crescia e envolvia a Terra

Quem passava se enlevava
Pela ternura demonstrada
Até o Rei espreitava
E via não poder fazer nada

Os dias foram avançando
E o Rei sem saber que fazer
Decisões acabou tomando
Os conselheiros deram o parecer

Chamou os dois apaixonados
E decidiu tornar o pajem cavaleiro
Assim podiam ser casados
E não haveria nenhum zombeteiro

A boda foi prolongada
Todos estavam felizes
Finalmente a princesa amada
Teria as suas próprias raízes


Fim

Rosa Alentejana (Felisbela Baião)

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