terça-feira, 24 de março de 2020

Carta de amor...ou pena


Num tempo em que ficar em casa exige um esforço da nossa parte, que tenhamos a mente aberta para escrever sobre o amor…aquele que fica esquecido nas gavetas, mas que sentes o perfume de cada vez que as abres. Esforça-te por te encantares. Hoje é o dia.

Meu querido amor,
Hoje ao acordar, ouvi as bátegas da chuva nas vidraças da janela. Sei que não vais acreditar, mas parecia mesmo o tal “cliché”: quase pensei que estavam a escorrer lágrimas no meu rosto.
Esta angústia no peito vive comigo desde que partiste. E agiganta-se como monstro nas paredes do meu quarto. Dói. Como se uma manta feita de ausências me abraçasse e apertasse e a faca afiada do teu olhar ainda pudesse ir mais fundo.
Por isso, não queria acreditar que chovia lá fora e por dentro de mim. Por um lado, a tristeza embebe a terra fértil do meu coração. Por outro, rega as sementes de doçura que plantaste com as tuas mãos.
Meu amor, quem sabe se o mês de março nos irá trazer, de novo, o florescer da primavera? Não deixes que uma miséria exterior nos corte as asas.
Sabes, um recomeço pode espreitar por entre as folhas verdes das árvores, escondendo o ninho firme do nosso amor.
Somos aves enlevadas pela mesma Lua e pelo mesmo Sol. Se valorizares as minhas asas, o meu voo poderá ir ao teu encontro.
Lembra-te de que as estrelas sobrevivem ao relento, noite após noite, sem medo do frio.
Como podes ter medo das tuas asas de Ícaro num dia de Sol, se o mar te abre os braços na seara dos meus?
Meu amor, o silêncio não sobrevive durante o tempo em que não nos vemos. Há sempre um tom de voz que se sobrepõe aos nossos ouvidos.
Eu consigo amar-te sem pena e sem razão. E tu, consegues amar-me assim?
Despeço-me com um abraço apertado impossível de partilhar e um beijo que só nós dois podemos imaginar!
Adoro-te…
A tua pena

(imagem da internet - Rosa Alentejana - Felisbela Baião)

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