quinta-feira, 26 de março de 2020

Versos quebrados


Arrasto os passos pela estrada, num movimento desalentado. Sou filha das espigas douradas, tenho no corpo um Sol acorrentado. Por isso, tenho a pele morena e mesmo as rugas de expressão. Meu coração é de papoila serena, minhas veias de céu azul e vento suão. Carrego nos olhos as planícies, ondulando ao som da paixão, mas meus pés nos tempos difíceis, não me dão paz, apenas solidão. Ensanguentados vão seguindo, por rochas agudas e barro seco, mesmo assim eu vou sorrindo, perante o vazio deste degredo. Ouço ao longe uma voz que chama, e avanço dorida nessa direção. É o rio que corre, o perfume que a água emana, vestida de limos, agredindo-me num turbilhão. Porém, o meu corpo precisa da loucura da luz e da água fria. Lentamente, nua, entro na frescura e lavo-me de tormentos e ausência de rima. Porque aquilo que quero e sinto é só um poema, despido de ideias e esperanças. Aos poucos as frases vão saindo da boca, são versos quebrados, mas cheios de lembranças.

Rosa Alentejana (Felisbela Baião)
26/03/2020

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