segunda-feira, 23 de março de 2020

Tédio ou quase…


Percorro o caminho
Ladeirento e deslavado
Que fiz tantas vezes
Contigo

Morro mais um pouco
E de dorso encurvado
Vou contando as palavras
De abrigo

Enquanto o pato mergulha
Em busca de alimento
Eu busco-te – agulha em palheiro –
Nos ideais que invento

Entendo que não és perfeito
Nem eu o quero ser
Mas o amor ao nosso jeito
É pérola rubra que brilha ao nascer

Talvez se apague com o tempo
Talvez a neblina o dissipe
Talvez uma pena - ou um protótipo -
Se levante e no céu se agite

E eu não queira mais
Esse momento

Me recolha à margem
E simplesmente grite!

Porém, o que é dado
Com mesura
Deve ser retribuído
Com a mesma lisura…

Levanto os olhos e vou com a águia
Norteando novamente
A minha triste poesia…

Sou nos meus olhos d’água
Cega da minha humildade
E tu não consegues ler a mágoa
No solo cheio de humidade…

Faço a minha oração
Ao rei Sol que me acolhe
Talvez o teu coração de caracol
Que se encolhe, não seja capaz de subir por ser mole
Este enorme lodaçal…

Rosa Alentejana (Felisbela Baião)
23/03/2020
(imagem do Pinterest)

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