segunda-feira, 9 de julho de 2018

Só não quero morrer…

Eu? Já não grito na alcova, cabisbaixa, enterrando o rosto nas almofadas e chorando as mágoas que a pena insiste em escrever. Já não me curvo perante a lascívia, escondendo a vontade de lamber as letras. Pecadora me confesso de cada frase impúdica. Sim, sou a rameira da escrita que me veste, despindo-me nua perante o olhar incrédulo dos curiosos inconfessos! Arranco os gemidos da pele, e os orgasmos do espírito não me ficam entalados na garganta. Grito-os aos sete ventos, no Sete-Estrelo feito cometa da minha imaginação. Acaricio a minha estrela-guia sempre que uma hipérbole me faz sucumbir e entreabrir os olhos, revirando-os num espasmo melancólico. Provoco a leitura com lábios vermelhos como as maçãs que pedem para serem mordidas. Cruzo as rimas como se cruzasse as pernas brancas num dia soalheiro, e faço corar os teus pensamentos. Sim, sou a rameira da escrita, que sem vergonha se atira pelo penhasco da escuridão e se suicida no mar feito de sal na salmoura de cada texto. E não é por isso que vou pedir perdão… Perdoem-me os incautos, porque não os avisei que a vida do poeta é vivida neste constante abandono que é o nascimento de cada texto. Eu só não quero morrer!

Rosa Alentejana Felisbela
09/07/2018

Observação: isto veio a propósito do texto do João Dórdio, mesmo agora, e que se pode ler aqui https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1683225508393868&set=a.487424331307331.1073741825.100001193066203&type=3&theater&comment_id=1683317278384691¬if_t=feedback_reaction_generic¬if_id=1531154490130410

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