sábado, 1 de agosto de 2020

Colar de contas pretas


Pego naquele colar de contas negras que a avó esconde na gaveta da mesa de cabeceira e saio a correr para o quintal. A avó cuida das galinhas, poedeiras de pintos amarelos, que um dia hei de apanhar para explorar melhor. Levo-o escondido no bolso do bibe aos quadrados azuis e brancos. Passo a correr o lugar onde devia haver uma porta entre os quintais, mas que não existe. Vou para a manta estendida por baixo da figueira e retiro-o com cuidado. Por momentos, coloco-o ao pescoço e caminho pela manta como dama da corte, deixando que os súbditos me beijem a mão. Rapidamente me aborreço, e coloco-o em volta do braço, como tinha visto umas senhoras fazerem televisão. Sou a rainha que se senta no chão a dar conselhos ao seu povo. Poucos minutos depois, tento colocar o colar na perna, mas ao dar a última volta parto-o e na manta espalham-se muitas bolinhas… Fico vermelha e assustada. Apanho todas as continhas negras e vou a correr coloca-lo novamente na gaveta. Com a pressa, esqueço-me da avó, que me segue e vê o que fiz. Só a ouço gritar atrás de mim “Magana, que me partiste o terço”!!!!

Rosa Alentejana (Felisbela Baião)

Sem comentários:

Enviar um comentário