sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Sozinha


Fecho os olhos e fico quieta. Não quero ouvir nada. Só o som da rua que passa pela janela da minha casa. Sim, tenho uma casa que me abriga das intempéries. Mas a vida insiste em colocar-me à prova no gume da faca que corta afiada. Os cortes perversos afluem-me ao cérebro. O coração bate descompassado. Estou tão só, como o sobreiro manso no meio do campo cultivado. Tantas sementes à minha volta e poucas germinam. Devo às raízes tudo o que sou, mas serei árvore suficiente para me manter em pé? Inspiro o ar rarefeito da esperança. Abro as janelas da alma. Deixo arder o sobreiro para me dar algum calor. Sinto o perfume a queimado e a saudade percorre-me as veias. Acredito no que vejo e sinto. Vivo. As pálpebras teimam em abrir-se para a rua que passa apressada pela janela. E eu pego no telemóvel para te ligar. Ninguém consegue suportar as amarguras da vida sozinha.

Rosa Alentejana Felisbela
19/10/2018
(imagem da net)

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