domingo, 13 de setembro de 2015

Sonho na realidade


Amanheceu e hoje não me importam as palavras sobre a mesa do café, porque a manhã partiu sem um “amo-te”, nem deixou um beijo a arrefecer. Mas nem a mágoa certeira de quem a chora me faz molhar as mãos, simplesmente porque já não sinto. Sequer me vou martirizar pelo simples afago nos cabelos que não se ajeitou à pobreza do meu pequeno-almoço. Já não ouço as notícias da vizinha do lado colada à janela a pisar as folhas ainda brandas das lembranças. Nem me importa o cão que ladra ao meu lado, por causa das magras gotas de água que caíram no quintal. Apenas vou sorrir. Vou sorrir à flor perfumada que me doaste através das pontas dos dedos soltos à brisa da minha esperança, tantas vezes perdida. À chama que inventaste na minha boca, como dilúvio quente penetrando na minha realidade de veias intrínsecas ao coração. À suavidade que entrou abruptamente na loucura da minha pele. A esse derreter exausto de tanto evitar querer…mas que cedeu vagarosa e ternamente à maravilha das palavras ocultas no dicionário de nós. Ao suspiro que a boca arquejou quando o fogo do teu sonho abriu caminho entre vales suspensos há tanto tempo, que a língua igualava a rocha muda do chão que os forrava. Ao entendimento que suportou o discurso anelando as paredes caiadas de tristeza e que as pintou com as cores do arco-íris, de todas as vezes que imaginávamos uma ponte. Às tardes e noites em que não me vendaste o brilho, mas que tanto queriam transbordar de quimeras… Ao banho quente com pétalas de rosas emaranhadas nas nossas vontades inquietas por um sopro de amanhecer… E volto a sorrir ao dia que vive em mim, por tua causa, e à energia que não desiste de um dia…um dia…acontecer!

Rosa Alentejana Felisbela
13/09/2015
(imagem da net)

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