segunda-feira, 5 de abril de 2021

Confinamento

Contam-se as vírgulas impressas no texto sempre original. Nem muda uma palavra. Não existe um ponto final. Tantas reticências enganam as linhas. Comem-se verbos decorados, conhecidos. Saboreia-se a sopa de letras e lambem-se os lábios. Nada diferente. A saliva deixa de estar incandescente. Na língua, as papilas inchadas do veneno, eriçam-se mais uma vez. O corpo do poema exagera nas loucuras. O coração segura-se entre duas linhas. Cuidado com o vento, pode vir a trovoada e a revoada de ternura afasta-se brutalmente. O favor apaga-se na metáfora barata. Não são precisos rubis para entender que a mina florida foi fechada. Não há mais refeições na paragem dos autocarros. Maldito confinamento. Felisbela Baião (Rosa Alentejana)

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