Entendam
que ele, hoje, vestiu a sua camisa branca, imaculada.
Por
trás das suas costas, o teatro agiganta-se e abre as cortinas com pó, com palavras
e com fachadas. Espectadores e espectadores caem em valas comuns abertas em
feridas cruas, numa terra dura. Estilhaços
de dor vão corroendo as vidas cansadas.
Entendam
que ele, hoje, vestiu as suas calças bege, perfumadas.
O cheiro
pútrido da fuga resiste em estradas vãs. Finos fios de ajuda humanitária
cruzam-se num tempo demasiado entardecido. De vez em quando, um murro da voz de
mães, um estalo dos olhos lacrimosos de crianças, e o martelo da indiferença
não atrapalha. E ELES? O que fazem?
Entendam
que ele, hoje, calçou as meias limpas.
As
SUAS vozes, a meias, vendem pecados, vomitam vazios, enfatizam projetos de paz
alheia à nação. Incham os egos. Ofendem-se comadres. Pasmam-se descrenças. Incubam-se
vinganças e alcançam-se espasmos de vitórias. Joga-se o jogo do “unidos pela
pátria”, quando a festa começa e o povo já não tem pão.
Entendam
que ele, hoje, calçou os sapatos novos.
Olha
os pés com pedaços de pranto atrás da orelha. Sacode-os num gesto simples.
Entendam:
ele caminha porta fora com o filho nas mãos…
Felisbela Baião (Rosa Alentejana)
(imagem da net)