quarta-feira, 30 de março de 2016

Versos perdidos


Ainda a terra sussurra dores na enxurrada
Desta vida arada por tormentos turbulentos
Magoada pela chuva, p’lo frio e p’los ventos
Já palavras voam do ventre em debandada

E vão pousar paulatinamente sobre um nada
Onde sobejam asas falsas em céus cinzentos
Mas nuvens brancas trazem novos ensinamentos
Aos ramos da árvore ainda agora desfolhada

E a primavera homenageia com a sua chegada
As marcas que se apagam aos poucos da mente
Dessa terra outrora rasgada e bastante saturada

E voltam flores coloridas à terra da mesma estrada
Humedecendo os versos perdidos inutilmente
Fazendo brotar o horizonte na escrita enamorada

Rosa Alentejana Felisbela
(foto minha)

segunda-feira, 28 de março de 2016

Espiral de emoções


Há uma correnteza de ideias
percorrendo o leito das letras
amargurado pelas certezas.

São doloridas companheiras
aliadas a ausências de verdades
numa complexa torrente…

Mas eis que surges
carregado pelas mãos suaves
da esperança
nos versos que colho
das margens,
como alquimia,
arrolhando sílabas de amor.

Desbravo-te a cor dos olhos,
iço-te bandeira do poente
enquanto os meus lábios
saboreiam o teu nome
salivando…

E os meus dedos encontram
de novo
os teus
num poema
naufragado de fantasia.

Acolho-te nos braços,
perdendo o sentido dos sentidos,
num paradoxo infernal de desejo,
enquanto a maré ininterrupta
da sintaxe
me assombra.

E há um sopro murmurado
ao meu ouvido
que me traz o som da tua voz,
como búzio da memória,
numa velocidade atroz…

E eu absorvo o sonho
e apago-te da folha de papel
porque és um poema
irreal…

Não há rima
que descreva a espiral
das emoções
numa poesia de cordel.

Rosa Alentejana Felisbela

domingo, 27 de março de 2016

Navegabilidade da palavra


Tentei descobrir quantos hemisférios
tem a palavra,
como se só pudesse dividir-se
em duas metades
traçadas pelo meridiano
dos sintomas vasculares,
mas subentendi
os seus sentidos.

Percebi que ela tem, em si,
a anacronia da alma
e a hereditariedade de cada desejo,
numa amálgama
de sístoles e diástoles.

Ela submete-se à navegação
do sangue,
de acordo com as marés
da arbitrariedade,
pois é esférica.

E cada um dos seus lados
depende da vontade
de quem a atira
como dado
do jogo da poesia.

A mensagem voa
sobre esse mar
coberto da multidão
de letras
escolhidas ao acaso
pelo poeta!

A palavra
é livre
de se expressar.

Rosa Alentejana Felisbela
(foto minha)

quarta-feira, 23 de março de 2016

(Se)mente


Fazes dos sentimentos das mulheres banalidades
Que utilizas como troféus segredados em poemas
Como se as palavras fossem apenas simplicidades
E o que sentem por ti fossem apenas meros temas

Fazes das rosas viçosas um jardim de coisas mortas
Que sofrem as dores de acreditar nas belas algemas
Que colocas em vez de alianças, porém todas tortas
À imagem da tua mente distorcida que bem acalentas

Fazes das árvores o ganha-pão da origem poderosa
Que envolve o caule, como fruto amargo e recorrente
Pagando os moldes da terra arável remanescente

Fazes do óbvio fingimento uma bela e rebuscada prosa
Que inspira o prémio nobel da farsa falsa e aparente
E despem-te as folhas desnudando essa (se)mente!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

terça-feira, 22 de março de 2016

primavera-me


"primavera-me os sentidos
e perfuma-me os desejos
só assim saberei
qual a estação do nosso amor"

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

domingo, 20 de março de 2016

Chegada da primavera


Ainda agora nasceu o sol, por vezes encoberto
com as nuvens escuras anunciando a trovoada,
e já se sente a primavera, numa doida revoada
de asas, perfume a flores e folhas a céu aberto

Ainda as águas abrem o seu percurso incerto
por entre pedras e barrancos, tão determinada,
já esse som nos regenera e torna a alma lavada
de quem respirou a tranquilidade muito de perto

E as laranjeiras que se vestem com todo o primor
para receberem o fruto nas suas mãos delicadas
de verde esperança no seu eterno e sublime amor

Acenam às amendoeiras agitadas e abertas, em flor,
envoltas pelo vento, em ternas carícias enamoradas
de quem aguarda as chuvas num namoro promissor!

Rosa Alentejana Felisbela
(foto minha)

sexta-feira, 18 de março de 2016

Sabor a limão


Mantendo as pétalas recortadas
pelo orvalho
e hirtas perante o entardecer
do sol, sangram-lhe os lábios

Mastiga a silhueta aberta
pelo abraço a sós
em contraluz na pedra do muro
de prata e cospe o amargor

Contradizem-se os recortes
luminosos da luz da lua
com as sombras ambíguas
das folhas num marejar
de olhos nus

Confrontam-se os ombros
caídos pelo silêncio afora
como se o uivo do lobo
se restringisse à sílaba
inaudível do adormecer

E o vento frio
arrasta as nuvens
na noite escura
como o breu da partitura
dolorosa do seu som

Quantas gotas lhe caem
das mãos ainda em embrião
quando escreve poemas

Quantas tragédias gregas
alberga na trouxa da vida
qual peregrino descalço

São as feridas abertas
que desmoronam alquimias
num último fôlego irreal

Quando acorda do sonho
já a madrugada fez o ninho
na paleta da criação
e uma nova luz penetra
pelas pálpebras
do seu coração.

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

quinta-feira, 17 de março de 2016

Milagre



"É-me indiferente a oração
que os meus lábios pronunciam,
desde que tenha a certeza
do milagre da tua boca!"

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

quarta-feira, 16 de março de 2016

Derradeiro desejo



Oh tu, noite tenebrosa de tormentos!
Toma-me em teus braços soberanos
Transporta-me em teus veios profanos
Para o mundo dos prazeres sonolentos!

Dá-me a morte provisória dos desenganos
Como um elixir contra estes passos lentos
Porque os demónios escutam muito atentos
As imperfeições de todos os seres humanos!

Cobre-me o corpo com teu manto brilhante
De constelações lindas, luzidias, que só eu vejo
E deixa-me despertar branca nesse teu beijo

Que me acalma serenamente o semblante
Num verso morno e doce escrito em solfejo
Pelos anjos, como num derradeiro desejo!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

Cave da memória



Descrevo-te neste meu caderno antigo,
Onde as folhas soltas amarelaram tanto
Como as searas douradas no seu manto,
Toda a beleza que tem a palavra “amigo”

E nem as “modas” derramando o encanto
Sobre estas gentes, meu porto de abrigo,
Me afastam o pensamento d’um dia contigo
Celebrar esse abraço mudo de espanto

Quando os ombros exaltarem o encontro
Das nossas faces nesse imenso carinho
Como uma casa, a segurança d’um ninho

Sobrevivendo à promessa do recontro
Amadurando como o mais antigo vinho
Na cave da memória, meu pergaminho!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

segunda-feira, 14 de março de 2016

Afagos da natureza


Perante o som confesso
da água cristalina a correr
fecho os olhos, adormeço
sinto sem realmente ver

Ouço o som dum avião
ao longe, num ronronar
e acho que é o coração
baixinho, a sussurrar

Ouço o melro e o pardal
uma cigarra e um grilo
certamente no matagal
que sinto e sei tranquilo

Ouço o vento na azinheira
apressado no seu passar
quero entrar na brincadeira
levantar-me e ir cantar

Mas os olhos ficam fechados
numa calma que não se apaga
quero os sonhos bem guardados
enquanto a natureza me afaga

Rosa Alentejana Felisbela

sábado, 12 de março de 2016

Conto: A ilha

Primeira história que eu conto:

Ilha
Já te encontrei ilha, sozinha e abandonada. Já te cresciam ervas e árvores e melancolias por todos os lados. Nem sequer erguias os olhos para o sol, porque as sombras dominavam todas as altitudes. E o perfume a bolor condensado sobre as raízes sufocava a respiração bafienta e entediada que te agarrava a pele, como inseto devorador de sangue enlouquecido pela fartura. Recordo-me da humidade constante nos teus olhos e na pena ingerida aos poucos, como soro paliativo da fome que te consumia. Sabia-te a exata localização, como se a longitude fosse insignificante perante o meu astrolábio. Vivias devagar, como quem sofre em “slow motion” cada bocado de angústia e se instala na beira do precipício de pés bem seguros pelas rochas, aguardando o impulso para o mergulho final. Embarquei na esperança do tempo e alcancei-te com mãos de luar pegando fogo ao mar de palha que nos separava…


Conquistador
Recordas-te da melodia que deu à costa pelas minhas mãos? Era aquele arrulhar das ondas, arrastando estrelas douradas, de um dourado brilhante, de um dourado apaixonado pelas tuas margens. Era aquele desmoronar na praia, o lamber da areia aos teus pés, sem, ainda, ter a ousadia de pensar em te tocar. E era eu, o teu conquistador valente, de espada em punho, qual pirata laborioso, ardiloso e enamorado, verbalizando cada vaga envergonhada em tom de tenor. A minha voz de tritão emudeceu-te, sendo conhecedor das profundezas do teu mar de anémonas coloridas, de cada pérola escondida no ventre de cada concha, de cada gruta solitária onde guardavas os teus tesouros. Lembras-te que não querias contar-me o seu posicionamento? Mas aos poucos, confiaste-me as arribas, as encostas, os desfiladeiros e dunas, bem como todas as plantas e perfumes que eram teus…tão teus! O meu olhar de menino do mar emoldurou o por do sol por trás da tua silhueta encantada e colocou a bandeira da conquista no monte mais alto, no monte mais acima, no monte do Olimpo! E foi quando brotaram novos cursos de lava do teu ventre para as minhas mãos…


Encantamento
Recebeste o jorrar de fogo das minhas mãos numa reciprocidade contagiante, como se um anel de vida nos unisse e nos comprometesse ao vício constante. Aparei os teus ramos de folhas raras, reguei as tuas raízes em carícias doces…tão doces, mas tão doces, que todo o mel de uma colmeia não seria suficiente para lhes fazer jus! Ajustei as tuas margens com o cuidado do agricultor, como se toda essa meticulosidade fosse a mais bela prova do meu amor! Afastei as sombras do teu chão e plantei veios de sol na tua pele plena de rubor e vida. Fiz-te viver a natureza de forma tão pura como a parede branca que a cal acalma perante o verão tórrido de uma paixão, e brotaram pequenos caules carregados da seiva dos poemas. Germinaram flores e nasceram frutos da cor carmim da tentação, enquanto a lava derramada das tuas veias, fertilizava as letras em canções de “ninar”. E embalei os teus sonhos com perfume a loureiro, eucalipto e pinheiro, numa fórmula mágica que jamais havias conhecido. Mas a perfeição tornou-se eco de mais uma breve conquista. O meu barco teria de partir rumo a novos horizontes e tu…


Tempestade
Tu continuarias ilha, se eu não tivesse desnudado as águas ao teu redor, se eu não tivesse abraçado ternamente esse prodigioso perfume às ervas de cheiro do teu chão, se eu não tivesse enfeitado os picos dos teus montes com coroas de flores e pássaros coloridos, e não irias achar que eu ficava. Porém, a tormenta aproximou-se do meu barco. Os relâmpagos rasgavam o céu de uma ponta à outra do horizonte, como aviso de que as nuvens iriam convergir e desmoronar-se sobre ti, empurradas pelos ventos fortes, tornando o dia cada vez mais escuro. O ribombar dos trovões, mais fortes que a própria mão de Thor, ensurdeceu-me de tal forma, que quis apenas salvar-me. A precipitação não tardava e eu…corri para os braços do meu barco. Já as ondas iam altas quando recolhi e me fiz ao mar das minhas ilusões, carregando todos os meus sonhos, todos os teus tesouros, deixando-te ali perdida. A tua nudez espelhou-se nas águas, como reflexo imprevisível. Se o verbo amar se sobrepusesse ao espelho quebrado da reciprocidade, as rochas não teriam ficado expostas…


Resiliência
E aqui ficaram as minhas margens a descoberto, após a monção dos teus abraços, após a tirania das vagas moldando os meus pensamentos de ilha frágil. Sim, resisti à subtileza cravada em cada investida do vento norte. Tornei-me una perante a ira da chuva inconveniente, regressei à impermeabilidade do solo e fiquei só com a água que me favorecia. Aprendi a resiliência do guerreiro perante os temporais que poderão advir num futuro próximo. O meu coração ficou reforçado, e em mim correm apenas rios calorosos e afluentes maravilhosos, rodeados de vaga-lumes quando a luz me falta nas noites escuras, e de beija-flores para mimar as flores junto aos seus leitos férteis e produtivos. Nascem agora verbos encorajadores das minhas entranhas como se a vida se esforçasse por realizar todos os meus sonhos escondidos, numa benesse embriagada de existência. Apenas o por do sol bebe do cálice profano na contraluz do meu horizonte e entorna as suas cores nos contornos da minha imagem…e brotam poemas dos meus olhos.

Fim

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

terça-feira, 8 de março de 2016

Fantasia


Fizeste do sorriso uma muito maior alegria
Que aquela que sentia muito tempo antes
Ao tentar revelar teus versos insinuantes
Enquanto simplesmente olhava e te lia

Fizeste das palavras um porto bem seguro
Para a amizade que guardamos na voz
Pura como o branco da espuma na foz
Onde desembarca o teu e o meu futuro

Fizeste do meu final de dia uma surpresa
Mais gratificante do que qualquer poema
Como uma cena bonita de algum cinema
Deixando entre nós uma luz acesa

Lembrei-me das tantas vezes que líamos
Excertos de livros e partilhávamos depois
Numa tranquila harmonia entre nós dois
E do resto do mundo nos abstraíamos

Mas a poesia continua a ser a nossa paixão
Cada frase escolhida pode ser uma epopeia
Onde somos heróis numa imensa odisseia
Regressados da guerra com cada emoção

E fazemos da escrita a nossa aventura
Entre fonemas e grafemas acordados
Na rima dos dias em lados contrários
Do Atlântico onde a magia perdura!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

segunda-feira, 7 de março de 2016

Música das tuas mãos


"Vestes-me da música
tocada pelas tuas mãos
e o brilho no rosto são as notas
reverberando nas veias
marcando o ritmo do meu coração"

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

Música


"Quando a música te inspira
há um verso que flutua
sobre a pauta do meu olhar
e um suspiro aflora-me a boca
na melodia do nosso amor"

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

domingo, 6 de março de 2016

Terra

Terra

Eu sou o caminho aberto
pela enxada
de cada lembrança.


Enquanto emerjo flor selvagem,
à tua imagem e a ti semelhante,
surgem ervas daninhas
alimentando-se de cada pétala
numa voragem
impiedosa e repugnante...


Se não fosses sol e mel,
meu calor e alimento
jamais seria fruto certo
no verão que sempre invento!


E em cada caule que cresce
da seiva mágica do teu manto
escrevo palavras
no universo
de folhas caladas de espanto...


Pois
volto sempre à terra
num ciclo feito de esperança
caminho aberto pela enxada
abençoado pela lembrança!

Rosa Alentejana Felisbela
(foto minha)

sexta-feira, 4 de março de 2016

Lua


"Cega de lua
inspiro-me no sonho
em palavras de amor
sempre que nasce
um poema"

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

quinta-feira, 3 de março de 2016

Ardilosa


Se conhecesses o som que aqui grita
E que a noite vislumbra sobre o telhado
Não haveria lua, sonho ou conto contado
Que amanhecesse livre na minha escrita

Jamais saberás do segredo guardado
Na obra do mágico manto ou da negra fita
Que brilha nos cabelos da menina bonita
Que encanta Lúcifer com corpo encantado

Porque nele flui uma estrela brilhante ardilosa
Na sombra daquele antigo e enorme casario
Com o perfume ao nevoeiro caído no rio

Porque dorme o silêncio da sombra na rosa
Da calçada que apagou o candeeiro no dia frio
E fez brotar as labaredas no chão escorregadio

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

quarta-feira, 2 de março de 2016

Entre a rosa e o jasmim


Enquanto o sonho penetra as reentrâncias da mente, buscando o poema da música do jardim, concebido entre as sombras das árvores, abre-se o cálice das palavras sagradas ao vento…
Agora sei que voltarei a florir nesse jardim de cores raras, onde a minha semente se abriu à terra, como brinde consumado entre a foz e a nascente na serra.
Sei também que tornarei aos braços da madressilva encarnada, onde jurei ser fruto permitido, embebido na labareda entrançada e quente do hálito da quimera.
Venerei tantas vezes essa seiva perfumada, que em meus poros se acendia, reluzente, que até os pássaros, sobrevoando a jornada, imitavam as pétalas algemadas de beleza e copulavam ao poente!
E era o límpido desabrochar da alfazema em teus olhos matizados a alecrim, que alegrava os meus lábios em forma de margaridas, e que permitia o destilar do tempero descontrolado, derramando o sabor a medronho de cor carmim!
No entanto sei, que ainda voltarei a florir nesse jardim, onde os muros brancos se emaranhavam de hera, escondendo dos olhos puritanos da primavera, o nosso reduto em tom marfim.
Porque sei que as letras são os favos de mel das lavras doces e suaves como o tule pairando, diáfano, sobre a nossa cama verde em esperança, contrastando com a coloração dos corpos nus, envolvidos em lençóis de cetim!
Porque sei que, quando o vento nos rodeava, nesse amparo de quem rouba o fôlego ao festim…levando as sementes, polinizava o ventre das palavras, engravidando-as de ti e de mim.
E porque me nascem os versos, como se a natureza fosse cada momento mágico entre a rosa e o jasmim, e o desejo fosse a pomba voando rumo ao céu…
No fim do meu sonho resto eu, inconsciente, descobrindo-me assim…

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

terça-feira, 1 de março de 2016

Sombras brancas


"Brancas são as sombras
que trazem a saudade
desde a veia à mão
como as pétalas
escritas no centro
da flor que abre no meu
coração"

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

Ovelha


Sou ovelha, de pelo encrespado, mas não sou cabra!
Vê tu, que ainda como erva e até lambo as águas
sossegada. Mas, se esperas que o “dito” se abra
para se soltarem rolando as “redondinhas mágoas”

desconfortáveis, que saem do meu “belo traseiro”,
preciso muito, então, que penses e que saibas
que até elas são precisas e adubam o “atasqueiro”
onde depuseste as tuas sementes e sábias lavras!

São elas mesmas muito mais do que perfumadas
e produtivas que as fantásticas e fabulosas fábulas
que aprisionaste nesse intestino ignóbil e rotineiro

das aves com cérebros tão pequenos como cloacas
que enclausuradas se julgaram talvez enlaçadas,
não fosse esse teu pestilento e forte…cheiro!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagens da net)