quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Um caso de pele


Quando olho as minhas mãos
de concha em prece pela tua pele
poros plenos de desejo eriçados
que se propagam pelo corpo
como onda de desejos alados
sinto-me fénix
renascendo

quase perto no prazer de te olhar
emergem serenatas, sonetos e odes
e luares de luas e pratas
que pousam no teu corpo de veludo
nesses contornos de beleza inata
onde me perco e encontro
o sabor de tudo

quase no toque roçando os lábios
soltam-se acordes nos sentidos alerta
que me transportam ao mundo da tua nuca
essa magia própria dos sábios
abrindo-me a fome concreta
dos suspiros que me deixam louca

há quase um marulhar do búzio no mar
das emoções que transpiro
quando as minhas mãos vão tocar
o teu rosto…é daí que recolho
o prazer que respiro
és tu quem me faz
viver!

26/02/2015
Rosa Alentejana
Foto de © Paul Apal'kin

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Meu

Um dia chamar-te-ei meu…

Quando colocar os meus lábios
em forma de búzio
no sopro lascivo que te segredar ao ouvido…

Quando tocar nas dunas das tuas formas
mescladas de canela, chocolate e pimenta
entrelaçando os meus dedos nos teus cabelos…

Quando afogar o teu sorriso
na sofreguidão do ar preso em soluços de prazer…

Quando me alimentar no naufrágio do teu mar...

Quando vieres amarar…

Serás meu!

25/02/2015
Rosa Alentejana

Pérola

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Caminhos de areia


Gastos estão esses caminhos de areia
banhados constantemente pelo mar das tuas palavras
que mareia os meus cabelos e deixa o sal
nos olhos da minha alma

Gastos pela erosão desse vento perverso
que me tolda cada verso e o torna eterno
e me veste de brisa suave ou de tempestade arrastada
conforme as tuas palavras
camufladas de mel ou de fel
em vagas de vulnerabilidade

Gastos pela ode à rebentação fatídica
na rocha que trazes, tantas vezes, nas palavras
e que me ofereces como coral colorido
mas desbotado aos poucos pelos murmúrios loucos
do choro quebrado e requebrado
pelas marés do teu olhar

Gastos pelos sedimentos que voam na tua direção,
aquela que desconheço, por falta do astrolábio
que repousa no teu coração e do qual não abres mão
e vive na profunda paz da penumbra das algas
plantadas no fundo do mar das tuas palavras…

Gastos ficam os caminhos de areias brilhantes
como o são os instantes em que me seduzes
e envolves nesse mar de rosas distantes,
rubras de alvoradas deitadas sobre esse mar
infinito de palavras…que visto e me tornam
a pele morena de tanto te a_mar!

Rosa Alentejana

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Quente


Festejo o teu beijo quente
no corpo de um abraço

Por dentro do corpo o suspiro
por fora mãos e pele, passo a passo

As bocas com fome de quente
em silêncio, na pele as letras que traço

Contudo, há fome nas mãos da gente,
no teu e no meu regaço

Por dentro do corpo o enlace
e a pele roça o peito como um laço

Num arfar que nos surpreende
quando tu o fazes, e eu o faço…

Nas mãos o cheiro de quente
na pele o fogo da ausência de espaço…

Nas bocas o sabor ardente,
nas línguas o hálito a melaço

Nos olhos o sorriso urgente
e do pecado mordemos um pedaço

Festejo o teu beijo quente
no silêncio do corpo
e no poema do nosso abraço!

Rosa Alentejana
19/02/2015
(imagem da net)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Emergência


Hoje cansei-me do lirismo
próprio
das ondas do mar.

Essas que batem no céu
do horizonte da minha boca
e recuam em vagas quebradas
pelo ultramar das marés
dos meus olhos.

Hoje tenho-os
verdes
vestidos dessa esperança
que veste o mar
quando há temporal.

Não quero mais o sofisma da espuma
que me cobre por inteiro,
e se desvanece quando o sol aquece.

Quero que me mordas as palavras
como se fossem gomos
de frutos do mar
a navegar
as minhas papilas gustativas!

Quero o sabor da tua língua
de areia
gemendo a meu bel-prazer
e os teus braços abertos
de estrela-do-mar
enroscados
às minhas vestes de sereia!

Ouves, amor?

Esse grito que ecoa
na rebentação
dos meus versos?

É a sofreguidão que me consome,
que me arrasta,
que me enleia…

Rasga-me o sonho
leva-me ao vento
que mergulha o meu pensamento
e beija-me, por fim, nesse amarar
próprio do pôr-do-sol no porto
que é o meu corpo
quando emerge
mais um poema!

Rosa Alentejana
18/02/2015

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Manta de beijos

E porque hoje é dia dos Namorados <3 ofereço-vos esta mantinha... ;) Manta de beijos Há dias em que o sorriso Provocado pela Alma doce Me deixa a sonhar num Paraíso Rendido, como se eu fosse Uma nuvem de emoção Presa ao céu do carinho, Fascinado, no Limbo da imensidão Da distância percorrida Entre os sentidos proibidos De nós dois… E nesta tarde chuvosa, Presságio de tristeza dolente, Afasto as gotas impiedosas Que escorrem pela janela e, finalmente, Adormeço no abraço dos teus braços, Embalada na manta de beijos Com a qual me envolves em pedaços De mel, de ternura, de meiguice que não vejo Mas sinto, no sonho que invento Por dentro do meu corpo inteiro E dos quais me sustento Inventando o teu cheiro! Rosa Alentejana in Antologia Poetas D'hoje, Poesia DA Beira Ria​, 2014

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Sabes amor


Sabes amor, todas as minhas palavras
nascem na fonte da tua boca,
tal como todos os suspiros que a noite evoca
se tornam rio correndo
pelas encostas do meu corpo,
contornando cada meandro dos meus sentidos,
já perdidos nas…palavras que depositas
no fundo do meu mar de desejos,
como corais coloridos
pelos beijos que não me dás!

Sabes amor, é no teu olhar que bebo
cada sílaba dos meus poemas,
como se a sede me matasse
mas a fome me desse mais alento
e eu abrisse o livro da vida
e escolhesse nele cada tema para te mimar,
para te afagar os cabelos
com a ternura peculiar da minha escrita…
para te abraçar na brandura quente
das minhas metáforas…
na saudade que não me matas!

Sabes amor, ainda ardo no fogo
aceso do incenso da tua voz,
como se cada um dos tons que usas
me preenchesse as veias de um mel
intemporal que me percorre veloz
sem pedir permissão para se entornar
nas minhas folhas de papel…
por isso, descrevo carícias
na dilatação dos meus versos,
como se esse fosse o nutriente capaz
de florir-me a pele gota a gota
perante a paz que não me dás!

Sabes amor, manténs-me o fluxo
de energia nas minhas quadras…por isso,
peço-te: não ardas
antes de me veres!

Rosa Alentejana
11/02/2015
(imagem da net)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

As minhas rosas


Desconheço o caminho para onde levaste as minhas palavras. Perdi-as algures entre as tempestades violentas dos oceanos das ruas da tua vida e a calmaria ainda verdejante das searas dos meus olhos…
Eram gaivotas livres roçando os mares de desejos, mergulhando lenta e suavemente na procura desse saciar de fome próprio dos amantes na sofreguidão dos beijos…
Eram pétalas de rosas perfumadas da ânsia dos beija-flores, como se o mel borbulhasse nos olhos, antecipando a saliva espalhada pelo vento, fertilizando os jardins de novos amores…
Eram estrelas cadentes aninhando-se nas constelações dos suspiros, como se os céus vestissem de azul as vontades lunares em reverência por todas as revelações que aguardavam os corações puros…
Eram folhas coloridas de miríades de outonos, amontoadas nas ruas, enfeitando as janelas abertas dos olhos dos apaixonados, augurando o final de todas as partidas, como se existissem, para sempre, apenas as chegadas…
Preciso da primavera das tuas mãos para pincelar de cores as minhas prosas...ou preciso do abraço das tuas palavras para ressuscitar os poemas que te declaro nas minhas rosas…

Rosa Alentejana
05/02/2015
(imagem da net)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Sei


Eu sei que não existes.

Mas as minhas palavras continuam
a percorrer o teu corpo, mansamente,
como quem quer guardar a imagem
no espelho da alma, na solidão dos dias
sem horas, sem minutos,
que insistem em passar!

Eu sei que não existes.

Mas os meus pensamentos
ainda te aconchegam, como a mãe
que acolhe no peito o amor do seu filho,
e pede perdão por ter tantas pétalas
de rosa para o cobrir, até ser demais…
tanto carinho no entardecer!

Eu sei que não existes.

Mas a minha memória
ainda evoca os teus olhos, os teus lábios,
as tuas mãos, como se cada parte de ti
pertencesse a uma oração mágica
que eu um dia…miraculosamente,
pudesse vir a ter!

Eu sei que não existes.

Mas a minha boca continua a ser o cálice
que aguarda o licor transbordante
dos teus lábios, como se esse fosse o elixir
que as minhas veias necessitam para um dia…
rejuvenescer!

Mas, eu já sei que não existes!

Rosa Alentejana
04/02/2015
(imagem da net)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Gastas pelo tempo


Quando os passos pesados
pisam o caminho de terra batida pelo tempo,
e eu inspiro o pó suspenso e suspeito
nos dias secos de calor e sufoco,
que trazem a dor ao peito…

Sinto uma vontade enorme
de tirar as botas já gastas, duras e esburacadas
e deixar que o ar renove e sare as feridas abertas,
longe de estarem cicatrizadas.

Desaperto os nós num ritmo lento e arrastado,
e aos poucos, retiro as botas e abandono-as
ao lado da rocha onde me sentei,
no limite do rio da vida, tocando levemente,
com as pontas dos dedos, as folhas do loureiro,
caídas junto ao valado.

Dispo as mágoas secretas do passado enclausurado
e amarro-as aos ramos espinhosos do silvado.

Recebo a brisa efémera e renovadora
que me acaricia o rosto num suspiro murmurado,
como se a luz do sol preenchesse os lugares vazios
e o vento
e a chuva
pudessem lavar e beijar os poros da pele
dos segredos em mim guardados!

Respiro o perfume a eucalipto
e recebo a água corrente no corpo
desnudado e purificado…

Visto-me de mudanças e prosas
e sigo com os poemas…calçados!

Rosa Alentejana
03/02/2015
(imagem da net)

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Pesadelo


Hoje vesti-me de branco e negro e, descalça,
caminhei pelo caminho lamacento da vida.
Nos meus pesadelos não havia qualquer saída
e as gotas caíram como facas na bonança

Restaram-me lágrimas choradas na despedida
e os cabelos encharcados por cada lembrança
como gumes afiados cravados na minha desgraça
nessa sorte da lápide ensanguentada e consumida

pela segura decomposição intemporal e decisiva
de larvas que apodrecem o meu pensamento
que me prendem e amarram e me tornam cativa

num gosto acre e solene gerador do tormento
que recusa toda e mesmo qualquer tentativa
de fuga à tempestade e ao último julgamento!

Rosa Alentejana Felisbela
31/01/2015
(imagem da net)