sábado, 21 de março de 2015

Como só tu sabes


Quantas vezes adormeço no casulo dos meus olhos
aguardando a transformação dos pensamentos
em asas cobertas de sol, cor e liberdade…

Embalo o coração numa morna melodia
e aconchego a dor aos ouvidos
enquanto me sobra um pingo de sobriedade!

No entanto, há a luz distorcida ao fundo do túnel
que meigamente me sussurra carinhos,
que sonha comigo na praia perfumada de mel,
que alinha a perfeita caligrafia
aos cantos da folha de mar e papel…

E eu preciso da loucura da chuva que cai
em bátegas de miosótis sobre os meus ombros,
nessa queda serena e sôfrega com que escrevo
cada metáfora, cada revolução enamorada,
cada segredo arvorado pela metonímia
do tempo…esse degredo que me arrasta
pela lama da idade…

E eu preciso do colo caloroso dessa sombra
familiar, onde o brilho dos diamantes se instala
como vestido de Cinderela sobre o corpo,
sobre a alma, procurando o sapato de cristal
no borralho do meu baú…a lareira de brasas frias
onde me deito e acendo o sono solto
para o acordar de mais um dia!

Não sei se a insensatez me vai arrastar para o fundo
das trevas evasivas da solidão, ou se a parceria
nos vai sobejar no olhar de uma nuvem de algodão doce…

Mas quero que o sonho seja leve e saboroso
e não breve, como apenas sabe ser
um puro coração.

Rosa Alentejana
16/03/2015
(imagem da net)

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