segunda-feira, 30 de março de 2015

A imensidão


Quando me pedes eu descrevo
parte da arte secreta do teu olhar de menino,
parte da arte que têm as palavras na tua boca,
parte da arte derramada na tua pele de seda e mel,
parte do abismo que há entre o meu lado
e a tua margem…

Mas é quando descrevo que te aproximas
e chegas no requebro que tem o lápis na folha de papel
e chegas ao íntimo da língua e deixas-me louca
e chegas às veias do momento paulatino
e chegas à caligrafia enluarada,
tudo quando ficas a meu lado
como um suspiro, na aragem…

E atrevo-me a enaltecer a cor
das tuas palavras, chocolate quente que me alucina
o palato, que entra na corrente da primavera
das minhas mãos e floresce no âmago
da minha pele, como jardim perfumado
e doce!

E invoco o sândalo desse mar
que navega o silêncio do nosso passado,
que abre as vagas do futuro induzido pelas nossas frases,
que sobe às faces num linguajar inexperiente
e arrasta todos os sentimentos numa turbulenta emoção
e paira como quimera sobre nós,
simples mortais, num segundo, numa espera
num senão…

Sentimos o arco-íris dos gestos
sempre que acolhemos os tons de cinzento
dos dias mornos, sem estação,
num pincelar de alegria e vento
que espalha as palavras no papel branco
onde entregamos solenemente
o nosso único…coração.

Acredito no desejo e rendo-me
ao luar argentino e imaculado onde me deitas
e no segredo que me sussurras à boca dessa vontade
transgressora e temperada pelo véu da manhã
que depositas sobre o meu corpo
livre e liberto do jugo de ilusão!

Quero-te. No abraço de esperança
e no colo do mar da vida de toda a imensidão.

Rosa Alentejana
30/03/2015
(imagem da net)

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