terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Gastas pelo tempo


Quando os passos pesados
pisam o caminho de terra batida pelo tempo,
e eu inspiro o pó suspenso e suspeito
nos dias secos de calor e sufoco,
que trazem a dor ao peito…

Sinto uma vontade enorme
de tirar as botas já gastas, duras e esburacadas
e deixar que o ar renove e sare as feridas abertas,
longe de estarem cicatrizadas.

Desaperto os nós num ritmo lento e arrastado,
e aos poucos, retiro as botas e abandono-as
ao lado da rocha onde me sentei,
no limite do rio da vida, tocando levemente,
com as pontas dos dedos, as folhas do loureiro,
caídas junto ao valado.

Dispo as mágoas secretas do passado enclausurado
e amarro-as aos ramos espinhosos do silvado.

Recebo a brisa efémera e renovadora
que me acaricia o rosto num suspiro murmurado,
como se a luz do sol preenchesse os lugares vazios
e o vento
e a chuva
pudessem lavar e beijar os poros da pele
dos segredos em mim guardados!

Respiro o perfume a eucalipto
e recebo a água corrente no corpo
desnudado e purificado…

Visto-me de mudanças e prosas
e sigo com os poemas…calçados!

Rosa Alentejana
03/02/2015
(imagem da net)

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