terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Ecos


Todos os sons que conheces pertencem ao timbre expresso da minha escrita.
Tal como árvore a desfazer-se em sonhos, nascida à beira do desfiladeiro da tua pele, lugar secreto que não me canso de descrever, derramo fantasias de lava incandescente da minha caligrafia.
Torneio a tua face, com a lentidão dos meus dedos plenos de vogais ardentes, contorno a maçã do teu pescoço com as letras na ponta da língua…humedeço os lábios de uvas maduras e fico ali…à beira do teu querer!
Conheces todas as entoações dos meus verbos, todas as nuances de cada consoante e até cada realce que coloco em cada provocação nas sílabas da minha ilusão. Tu entendes-me…
São os teus olhos que inspiram cada variação da minha letra: num tremor arrojado quando sorris, mais ousada quando sopras uma intenção, mais carinhosa sempre que te demonstras candidamente nostálgico…como se um conto de fadas, erigido num dia embrumado, pudesse ser escrito, de cada vez que me lês…tu entendes-me…
São essas tuas mãos mornas e macias que vivem nas reentrâncias de cada soneto, acariciando cada hipérbole, roçando cada metáfora, tocando cada letra onde mais ninguém pode chegar…tu entendes-me…
É a tua boca que reveste cada verso, no reverso dos poemas que trocamos, como um cálice embriagante, doce, terno, que habita as entrelinhas das minhas prosas num misto de perfumes de rosas e desejo de inferno que eu quero ter!
É o teu corpo o tecido em branco que me assenta tão bem, como vestido feito por medida, onde te descrevo o anseio que se esconde através da película breve que nos separa as dermes…tu entendes-me…
É aí, no ombro alado da saliva dos meus escritos, que me amas com ternura, num misto de sonho e literatura, que revives a monotonia de cada interrogação, que nomeias as exclamações um bem maior para a leitura dos meus segredos…tu entendes-me…
E sobra sempre o eco da minha escrita embatendo nas ilusões…

Rosa Alentejana
02/12/2014

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